A Sofia foi o fruto de uma decisão difícil. Foi-lhes dito, na altura em que se anda nas nuvens e não se imagina outra coisa que não a perfeição, que a sua filha por nascer tinha um problema. E, nessa altura em que o castelo desaba, em que lhes é perguntado se, posto isto, optariam por prosseguir a gravidez, a resposta foi "sim". Conhecendo os riscos, conhecendo os problemas potenciais e os prováveis. É talvez das decisões mais difíceis de tomar, e que ninguém tem o direito de questionar. E a Sofia nasceu, alguns meses depois, portadora de uma deficiência grave que lhe exigiu duas grandes cirurgias. E foi crescendo e aprendendo tudo passo a passo, entre as visitas frequentes a vários hospitais.
E de repente aconteceu. De um momento para o outro, a Sofia não estava bem. Chorava muito, não respondia a nada, simplesmente não estava bem. Foi levada à Urgência, e ao chegar surgiam dados novos. A boca ao lado, a assimetria da face, a suspeita de que teria um AVC. Daquelas coisas que só acontecem aos velhotes, queremos nós achar. Mas não. A Sofia teve um AVC com ano e meio de vida, consequência directa do problema com que nasceu.
Depois vêm as perguntas, como vai recuperar, se vai recuperar, perguntas que nos fazemos a nós próprios, médicos, e que os pais nos fazem a seguir. Perguntas para as quais não há respostas, "só o tempo o dirá, mãe, temos que ter esperança e saber esperar"... E depois vem o agravamento, e já não é só a face é também o braço. E a ressonância magnética, péssima, horrível, desoladora. Meio cérebro morto "e a outra metade, doutor?", não sabemos, "pode recuperar tudo, às vezes é assim com as crianças", mas leram-me o desalento nos olhos, porque lhos mostrei. Porque não lhes posso prometer que sim, que vai ser bom, que vai correr e saltar daqui a uns meses.
sábado, 31 de janeiro de 2009
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