Muitas imagens surgem na minha cabeça quando penso nos meus 12 anos. Muitas outras surgirão na cabeças de quem está aí, do outro lado do ecrã. Cada um teve a sua infância, mas certamente todos se recordarão da imaturidade que tinham aos 12 anos, da inocência maior ou menor. Mas de ser, aos 12 anos, criança. Talvez, também, uns mais e uns menos.
A Raquel tinha 12 anos. Vinha à Urgência porque os pais não se conseguiram lembrar de sítio melhor. O nível socio-económico era visivelmente baixo, o que terá certamente potenciado os eventos que culminaram com aquela ida à Urgência. A Raquel tinha fugido de casa dois dias antes, contava-me a mãe. A Polícia tinha-a encontrado com duas amigas e com alguns rapazes, nem percebi onde e em que circunstâncias. E, devolvida à família, não sabiam o que fazer. Assim contava a mãe. Naturalmente perguntei o que pretendiam então de mim... Disse-me a mãe, corada como um tomate, "é que ela... coiso!". Percebi que precisava da colaboração da Raquel, e portanto disfarcei a surpresa com uma pergunta "a Raquel teve relações sexuais, é assim?". A mãe anuiu, aliviada por lhe ter obviado a vergonha de não o saber dizer eufemisticamente. Pretendia que lhe fosse realizado um exame ginecológico, mas a Raquel garantia veementemente que as relações tinham sido consentidas. Não havia indicação para tal, mas algumas coisas precisavam ser apuradas... A Raquel não queria falar perante a mãe, e portanto pedi-lhe que saísse por um pouco. Explica-me então a Raquel, com os seus 12 maduros anos, que tinha tido já várias relações, sempre sem penetração e com preservativo. Expliquei-lhe que mesmo sem penetração a gravidez é possível, o que a fez mudar de cor... Talvez o preservativo não estivesse colocado todo o tempo, confessou. Desta vez tinha fugido, com o mesmo namorado. Na noite em que fugiram tiveram relações, consentidas - garantiu-me -, mas temia que o preservativo se tivesse rompido. Assim aguardámos o teste de gravidez, negativo, para podermos dar a pílula do dia seguinte. A uma menina de 12 anos. O pai, divorciado das mãe e emigrado na Suiça, tinha voado para Portugal pela notícia de desaparecimento da filha. A decisão estava tomada entre pai e mãe, ela ia viver na semana seguinte para a Suiça. Perdida a inocência, com a esperança de a recuperar noutras paragens. Mas com pouca fé.
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