A visita médica é uma coisa muito importante: consiste num grupo de médicos (todos da mesma equipa, desde o chefe até ao interno ou aluno de medicina) a passar revista a todos os doentes internados ao cargo dessa equipa. Discutem-se os casos, analisam-se os exames complementares de diagnóstico, programam-se acções diagnósticas e terapêuticas, etc. No fundo, o médico que está mais próximo desse doente apresenta e discute o caso com os restantes colegas, que - e como 6 ou 7 cabeças funcionam melhor que uma - ajudam a colocar hipóteses e sugerem linhas de actuação. Há várias modalidades de visita, há quem a faça à cabeceira dos doentes (o grupo desloca-se em massa de cama em cama e discute os casos em frente ao doente, havendo oportunidade para os re-observar e fazer perguntas aos doentes) e há a visita em estilo de reunião (todos sentados em volta de uma mesa com os processos clínicos na mão).
Há vantagens e desvantagens em ambos os métodos... Se por um lado a visita à cabeceira tem a vantagem de poder fornecer dados novos da observação e conversa com o doente, por outro lado é uma situação de grande ansiedade para o doente. O jargão médico acentua-se, se as situações ainda não estão bem esclarecidas usam-se termos evasivos, e o doente perscruta as palavras e os olhares dos médicos tentando entender alguma coisa - já que estão, caramba, a falar dele. Usam-se frases como "O Sr. José tem uma lesão OE no lobo hepático esquerdo, secundária a uma neoformação da pequena curvatura estadiada localmente em T4", que significa que o Sr. José tem um cancro do estômago gravíssimo com metástases no fígado que já não se pode operar. Se, por outro lado, na visita em estilo de reunião não existe este componente de ansiedade para o doente, por outro lado os casos podem não ser tão bem explorados e discutidos...
Enfim, com as vantagens e desvantagens inerentes a cada um dos métodos, a visita médica é importantíssima. Para quem assiste do outro lado deve ser, imagino, uma situação aterradora... Ver um bando de batas brancas em "rebanho" passeando-se em bloco pelo serviço - e por vezes com algumas conversas paralelas pelo meio, enfim - falando dos nossos próprios casos clínicos... Mas é por isso mesmo que falo dela aqui. Para a tentar desmitificar.
sábado, 11 de junho de 2005
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