Venho-vos contar o que se seguiu a este e este posts. A D. Otília está, caramba, ainda internada no meu serviço. passou-se um mês e 10 dias desde que vos falei nela.
A decisão que estava pendente foi tomada. Foi feita uma cirurgia complicadíssima - ressecção do bloco duodenopancreático (retira-se o duodeno e o pâncreas na totalidade, que são órgãos de difícil acesso e manejo). A cirurgia correu bem. Não houve complicações de maior durante a cirurgia, e toda a complicada reconstrução do trânsito do intestino e da bílis ficou aparentemente funcionante.
No entanto, depois da cirurgia as coisas complicaram-se bastante. A anastomose gastro-jejunal feita (ligação do estômago ao intestino) não deixava aparentemente passar o conteúdo do estômago para baixo. Assumiu-se que se tratava de edema ("inchaço") naquela região da anastomose, e aguardou-se a resolução por si do problema (quando "desinchasse"). Entretanto ficou a ser alimentada por um catéter central ("ligação directa" às grandes veias), aguardando a evolução da situação. No entanto, e passado algum tempo, a situação parecia não se ter resolvido, e muito pouco do conteúdo do estômago passava para baixo. Vários exames e tentativas de solução do problema por endoscopia foram feitas, e nada. Entretanto, e fruto do internamento prolongado e das manobras invasivas feitas, surgiram mais complicações: infecção respiratória, infecção do catéter central, etc... O tempo ia passando, e nada se resolvia, só complicava. Passado um mês da primeira cirurgia, a D. Otília regressou ao Bloco Operatório. Desta vez para fazer uma jejunostomia - ligação do intestino à pele, para poder dar os alimentos por esse orifício...
Neste momento a D. Otília não levanta os olhos do chão. Está deprimidíssima, e com razões para isso... Ontem dizia-me: "Na véspera de ser internada fui sozinha á praça, andei quatro quilómetros a pé. Hoje não consegui ir á casa de banho sozinha... Maldita doença.". Vou-lhe dando os sorrisos que tenho para ela, mas pouco posso dizer que a anime. Ontem começou com falta de ar, os exames mostram que provavelmente terá um abcesso junto ao fígado que dificulta os movimentos respiratórios. Mais uma complicação das cirurgias... Será esta a última complicação? Poderá a D. Otília voltar a alimentar-se pela boca, para se fechar a jejunostomia? O tempo o dirá. Dirá mais ainda: será que toda a cirurgia valeu a pena e que depois de todo este sofrimento o cancro do pâncreas que gerou todo este caos não volta a dar sinais de "vida"? O tempo o dirá... Mas eu é que já não sei o que hei-de dizer à D. Otília...
terça-feira, 21 de junho de 2005
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