terça-feira, 30 de setembro de 2008

Convulsões febris

No último banco recebi um bebé que tinha tido uma convulsão com febre, o Tomás.

As convulsões febris são extremamente frequentes, e têm um prognóstico muito bom. Acontecem mais frequentemente em filhos de pais que tiveram convulsões febris na infância. Geralmente a convulsão surge na subida térmica, e os pais só se apercebem da febre já durante ou após a convulsão. Começa de repente, e caracteriza-se por "abanões" dos braços e pernas, por vezes com "revirar dos olhos" e "espumar da boca", com o corpo tenso. Geralmente duram pouco tempo (5 minutos, mais coisa menos coisa - o que parece, eu sei, uma eternidade aos pais) e segue-se um período de grande sonolência, discurso incoerente, olhar vago, a que chamamos "estado pós-crítico". Depois devagarinho voltam a si, e recuperam o estado geral que tinham antes da convulsão. Só nesta altura a maioria dos pais começa a ficar um pouco mais tranquilo. A maioria das crianças com convulsões febris tem apenas um episódio, mas mesmo da minoria com episódios repetidos são muito poucos os que efectivamente têm uma epilepsia. Daí que, se a crise é típica, só após o primeiro episódio vale a pena fazer exames complementares de diagnóstico (electroencefalograma, por exemplo). A longo prazo não há qualquer consequência das convulsões febris. Em regra estas crianças são internadas, durante menos que 24h, fundamentalmente para que os pais vão "entranhando" essa noção de benignidade das convulsões febris. Vêm o filho deles bem disposto, ouvem a mesma coisa de múltiplos profissionais, e ficam então preparados para voltar a casa.

A maioria dos pais vêm na convulsão um evento muito perigoso. Não os censuro, é um episódio extremamente stressante, em que os pais têm a sensação de que os filhos (chamemos as coisas pelos nomes) vão morrer. Tentam uma série de coisas para evitar a mordedura da língua (o que já agora não se faz: nunca se coloca nada na boca de alguém com uma convulsão!), e esquecem-se de os proteger (impedir que caiam da cama, ou que batam nos móveis). Por vezes abanam as crianças (uma reacção também natural mas errada), o que pode por si provocar muito mais lesões que a convulsão em si. Depois esquecem-se, na aflição, de colocar os cintos de segurança no automóvel, e conduzem como loucos para o Hospital mais próximo - sujeitando-se a acidentes graves sem que a criança vá adequadamente presa...

O Tomás teve a sua primeira convulsão febril, e os pais levaram-no para a Urgência Pediátrica. Quando lá chegou já tinha cessado a convulsão, e ficaram por isso a aguardar a minha observação (a maioria das convulsões entra directamente para a sala de "reanimação", dado o aparato de que se revestem). Quando o chamei, depois de ter lido a informação da triagem, esperava a habitual entrada de rompante, com pais lavados em lágrimas e crianças sorridentes nos braços. Em vez disso, no entanto, entraram dois pais jovens, serenos, que me sorriram ao entrar, cumprimentando-me. O Tomás vinha ainda um pouco abananado, ainda vagamente em pós-crítico. Um pouco surpreendido continuei a fazer as perguntas da praxe, e concluí que se tratava de facto de uma provável convulsão febril. Ao observar o Tomás, então já de sorriso escancarado, arrisquei: "Então qual dos pais é que teve convulsões febris em pequeno?". Fora a mãe. Confrontei-os com a surpreendente calma com que entraram, e retorquiram que, apesar do stress provocado pelo episódio, o facto de o pai ser Bombeiro tinha-os feito ver a situação de forma um pouco diferente. Compreenderam muito bem todas as implicações daquela situação, e no final resolvi (já que se encontravam tão calmos) propor a alta imediata. Abri-lhes as portas, que se quisessem e não se sentissem tranquilos ficavam lá essa noite, mas que para o Tomás era sem dúvida melhor estar num ambiente conhecido, que não havia risco, que a única intenção do internamento seria conferir-lhes tempo para encarar a situação com naturalidade. Entreolharam-se e disseram em coro "Então vamos para casa". Despedidas, e lá foram eles, serenos como entraram.
E eu fiquei um pouco mais bem disposto (dentro do que se consegue estar com 60 horas de trabalho - na sua maioria nocturno - em 5 dias).

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Ele diz...

... que o que as crianças precisam é de Amor e Disciplina. Um grande senhor.

sábado, 27 de setembro de 2008

Memórias

Tenho recordação viva de, aos 7 anos de idade, me chocar com as notícias na televisão... Faz (já) 20 anos. Lembro-me de cantar de cor as músicas dele, a tocar no rádio da cozinha da minha avó (dele e do Marco Paulo, enfim... sem comentários). Como homenagem, um grupo de artistas vai lançar um CD em que vários artistas portugueses interpretam as suas músicas. Vai ser arrepiante ver o Tiago Bettencourt a canta-lo. Sou só eu ou eles são vagamente parecidos?
(via blimunda)



sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Vão lá espreitar!

Um amigo, devoto Pediatra e barreirense, resolveu iniciar-se nas lides bloguísticas! Fica aqui o destaque, e um post quer vale mesmo a pena:

"Não me batas mamã"

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Quem descobre?

Este azulejo encontra-se junto ao portão de uma casa antiga no burgo medieval de Castelo de Vide.

Quem descobre o que significa e qual é a intenção daquele azulejo?

sábado, 20 de setembro de 2008

O balão do Luís


O Luís era um menino como os outros. Gostava de fazer tudo o que as outras crianças fazem, como correr, brincar, saltar... Até que um dia uma dessas brincadeiras banais, aparentemente inofensiva, modificou a sua vida para sempre. O Luís não se afogou na piscina ou no tanque, como infelizmente tantas vezes acontece, nem caiu de nenhum muro. Estava, tão simplesmente, a brincar com balões. Juntamente com os irmãos, rebentavam balões e brincavam com os restos dos mesmos. Também eu me recordo de, em criança, colocar um pedaço de balão encostado aos lábios, com a boca aberta, e aspirar o ar para criar um novo balão dentro da boca, que depois orgulhosamente mostrava aos amigos. E era exactamente isso que o Luís fazia, imitando os irmãos mais velhos que exibiam os seus pequenos balões de "pipo" torcido. Mas o Luís, com 3 anos, não conseguiu fazer um balão. Aspirou, em vez disso, o fragmento de balão, que se "colou" na garganta impedindo a entrada de ar nas vias aéreas. E, portanto, sufocou.

O Luís sobreviveu. Não pode, apesar disso, brincar como brincava. Não é capaz de correr, não é capaz de saltar, nem mesmo de andar. As lesões cerebrais provocadas pela asfixia foram muito graves, e o Luís ficou confinado a uma cama, incapaz mesmo de falar e provavelmente de compreender grande parte do que lhe é dito. É alimentado por um orifício criado no abdómen, por não poder mastigar e engolir, que lhe leva as papas e alimentos triturados directamente para o estômago. O Luís é hoje um adolescente, preso à sua cama e ao seu mundo pequeno, com frequentes internamentos por infecções respiratórias e outras complicações das múltiplas sequelas que este acidente horrível lhe provocou.

Se não serve de consolo ou remédio, serve pelo menos este desabafo para despertar um pouco mais as atenções para estes perigos disfarçados de brincadeiras... Dêem uma vista de olhos pelo site da APSI, e saibam como evitar os acidentes mais frequentes. Não acontece só aos outros, os acidentes são a principal causa de morte em crianças após o primeiro ano de vida...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Fim de semana

O local do crime

Castelo de Marvão

Vila de Marvão

Castelo de Vide

Senhora da Penha - Castelo de Vide


Barragem da Apartadura

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Quando vens?

(A música é claramente um "guilty pleasure")

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Frase (1)

"Por favor deixem-me entrar na casinha, senão faço chichi pelas orelhas!!"

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Difícil dizer melhor

A minha colega (e amiga) Paracuca resume assim como é ser médico. Uma perspectiva realista e dura, mas muito verdadeira e assustadora. Não nos assustará tanto o inexorável erro médico se fizermos tudo para o evitar, talvez...

domingo, 7 de setembro de 2008

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Uma questão linguística...














Há uns meses atrás, estava eu - para variar - de banco, quando me aparece uma menina de 7 anos acompanhada pelos seus pais. História: Passeavam pelo Jardim Zoológico, quando viram o recinto das girafas. Entusiasmada pelas capacidades fabulosas da língua da girafa, a menina decide deitar a língua de fora. Os pais, animados pela brincadeira, iniciaram então uma sessão de "língua de girafa", imitando os três a extraordinária flexibilidade da língua do animal. Ei senão quando, ao olhar para a língua da sua filha em plena extrusão, viram aterrados algo que os fez recorrer a cuidados pediátricos urgentes... Umas "bolas", lá bem ao fundo da língua, tão bizarras que só podiam ser doença. As ditas bolas, expliquei-lhes depois (contendo afincadamente a diversão provocada por evento tão curioso), são papilas gustativas (as chamadas circunvaladas, na imagem abaixo) dotadas de sensibilidade para o paladar amargo... A pesquisa de imagens do Google deu-me uma ajuda, para os convencer da normalidade de tais "bolas". No entretanto, já que estavam de língua de fora, podiam ter espreitado para a boca um do outro. Aperceber-se-iam da presença das ditas cujas...

terça-feira, 2 de setembro de 2008