domingo, 27 de fevereiro de 2005

Vidas

O número do processo era bastante recente. Estava na última gaveta, no último separador. A minha tutora não os conhecia, deviam ter sido adicionados à lista de utentes muito recentemente. Estavam duas crianças do mesmo processo marcadas para a consulta, pelo que chamámos os dois nomes. Entrou uma mulher com cerca de 35 anos com duas crianças. Um rapaz com um ar malandro teria cerca de 9 anos, o outro tinha 4. Ambos vinham bastante sorridentes, o mais pequeno ao colo da mãe esbaforida, o outro entrou à frente a correr. A mãe pousava os sacos, enquanto tentava controlar os dois rapazes. O mais pequeno, já no chão, aproximou-se um pouco de mim. Estendi-lhe a mão para um "passou-bem", mas ele não achou muita piada e voltou costas. Começámos a tentar perceber o que se passava com aquela família. O processo tinha alguns nomes, alguns espaços em branco mas com números de utente, e nomes sem número. Uma grande confusão. A mãe começou então a explicar: tinha 6 filhos. Se alguns já tinha dado o nome às administrativas, de outros ainda decorria o processo de inscrição. Todos os filhos eram do mesmo pai. Viviam numa casa que um padre responsável por uma instituição de crianças desfavorecidas lhes tinha entregue. Essa casa ficava mesmo nas traseiras da instituição. O pai das crianças trabalhava na instituição (o padre tinha-lhe dado emprego), e as crianças estudavam na mesma instituição. Algumas delas. A mãe não trabalhava, tinha 6 filhos para cuidar. Tinham-se mudado agora mesmo para lá, anteriormente viviam noutro local onde não tinham condições mínimas de higiene. Ali tinham água e luz, estavam bem melhor agora.
O mais velho tinha estado doente. Tinha asma, e uma infecção respiratória banal tinha-lhe provocado um agravamento da asma. Já tinha estado medicado, e presentemente não tinha sintomas. Enquanto a mãe nos contava toda a história, o mais velho olhava com curiosidade para tudo o que o rodeava. Sorria sempre, com um ar semi-malandro que me despertou imediatamente uma empatia especial. Deve-se ter apercebido da empatia que tinha criado, pois começou a perguntar-me, enquanto a mãe falava com a minha tutora, o que eram os objectos que estavam em cima da mesa. Expliquei o que era o estetoscópio e o esfingmomanómetro. Depois deixou-se observar sem objecções, achou muita graça à minha aparência com o estetoscópio enfiado nas orelhas. Ao exame objectivo estava bem. Durante todo este processo o mais pequeno não saiu do colo da mãe. Estava entretido com o barulho que fazia ao dar pontapés na secretária. Tinha um sorriso um pouco bizzaro, achei-o um pouco estranho. Não falou uma unica palavra durante toda a consulta. Despachado o mais velho, chegou a altura da consulta do mais pequeno. Estava também constipado, ressonava durante a noite. Aos poucos a mãe contou o que sabia da história do pequeno: "Ele não é normal, doutora...", começou. O processo do Joel era de facto já gordo (tinha sido transferido do Centro de Saúde da residência anterior). Desde pequeno que lhe notaram alterações, inicialmente no desenvolvimento estato-ponderal (peso e altura), e mais tarde no desenvolvimento psico-motor. Tinha começado a andar apenas aos dois anos, e actualmente dizia apenas uma meia dúzia de palavras. Tinha sido operado aos "arnóides", segundo a mãe, porque parava de respirar durante a noite. Mas a mãe já não sabia se isso tinha sucedido no ano anterior ou dois anos antes. Começámos a tentar desbravar o espesso processo do Joel, e encontrámos fotocópias de notas de alta do Hospital da área anterior de residência. Tinha sido amplamente estudada a doença do Joel, inclusivamente com estudos genéticos aprofundados. O intenso estudo efectuado não tinha, aparentemente, fornecido resultados. Mas concluiam uma coisa: o desenvolvimento psico-motor do Joel não era melhor porque carecia de estimulação adequada. As notas de alta eram de 2003, e faziam referência a consultas marcadas de Desenvolvimento, Otorrino e Cardiologia Pediátrica, mas não havia registos de 2004. A mãe explicou que, com a mudança de residência, deixou de poder ir ao Hospital. Dessa forma, o aprofundado estudo efectuado não teve qualquer seguimento em consulta porque a mãe não tinha possibilidade de levar o Joel ao Hospital. Naturalmente isso nada acrescentou ao desenvolvimento e ao vocabulário do Joel...
O resto da consulta foi estranha. Era-nos impossível resolver todos os problemas daquela família, e os seus problemas eram tantos que era muito difícil escolher quais tentar resolver primeiro. Referenciámos o Joel de novo ao hospital onde tinha feito toda a investigação, e convencemos a mãe da importância de fazer os possíveis para conseguir leva-lo lá. Porque o tempo passa, e o Joel perde a cada minuto uma oportunidade de se desenvolver da forma mais normal possível.
Quando sairam respirei fundo. Há alturas em que não sabemos o que podemos fazer, mas sabemos que se nada fizermos nada mudará. E uma sensação de impotência invadiu-me quando a porta se fechou. Por um lado senti uma vontade enorme de me envolver, de me oferecer para levar eu o Joel ao Hospital. Quis pegar nele e ensina-lo a crescer, a aprender. Mas o meu lado racional contrariou imediatamente esse meu instinto. Em quantos casos eu irei ao longo da minha vida sentir esse impulso? Mas não é esse o meu papel. Sei que não me posso envolver. Mas custa muito. Tal como custa, nesses dias, adormecer à noite.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

Confusão

Chamámos o próximo doente. Era um ciganito com 1 ano, muito choroso. Vinha vermelho de tanto chorar, mostrava-se muito irritadiço. A mãe era extremamente obesa e trazia-o ao colo. Infelizmente a mãe não primava pelos hábitos de higiene, e imediatamente o gabinete ficou preenchido por um pesadíssimo odor a "falta de banho". Atrás dos dois vinha o irmão mais velho do ciganito. Teria por volta de 10 anos e trazia na mão uma pistola de água (daquelas grandes ao estilo "super-soaker" - um mito da minha infância). Entrou em pose de guerra, gritando em plenos pulmões. A mãe imediatamente lhe deu uma violenta sapatada na nuca. Apesar de ter ficado impassível, parou de berrar.
O pequenito chorava incessantemente, e a mãe explicou que tinha estado a arder em febre toda a noite. A mãe descrevia de forma extremamente enfática e colorida a tosse do rapaz, usando expressões como "parecia que se virava do avesso"; "pensava que ele morria logo ali!"; "ficou roxo como se morto enquanto tossia, Santo Deus, pensei que se finava ali!". A criança estava de facto muito irritadiça, e quando o tentava auscultar quase só ouvia os seus berros desesperados. Percebi vagamente, no meio do ruido ensurdecedor, que tinha de facto muitas secreções nos pulmões. Entretanto o mais velho começou a disparar água para cima do irmão. Molhou-me também a mim, a mãe deu-lhe uma sova, e todos berravam agora dentro do consultório. O mais pequeno porque estava doente, o mais velho porque estava a levar uma sova e a mãe porque estava a dar uma sova ao mais velho. E eu tentava, no meio de todo este rebuliço, perceber o que se passava com o pequeno. No final da observação tinha concluido que ele tinha uma infecção respiratória e uma otite aguda. Quando o dizemos à mãe esta replica: "Pois, foi o que me disse o médico do SAP!". Conclusão: já tinha ido ao SAP e já estava a fazer antibiótico (tinha começado no dia anterior). Quando perguntámos porque tinha ido então à consulta respondeu: "Era para a Doutora ver se estava bem tratado!"...
Não sem antes eu levar com uma bela borrifadela de água, sairam do gabinete. Atrás deles deixaram a pesada atmosfera, o chão todo molhado e o gabinete num rebuliço de papéis e clips espalhados pelo chão...

domingo, 20 de fevereiro de 2005

Fel (parte 3)

Uma determinada manhã, estava a Ana equilibrada tanto quanto possível na terrível situação em que se encontrava, a minha tutora entendeu que ela estava em condições de ter alta. Será mais adequado dizer que ela estava estável o suficiente para ir para casa passar os (poucos) últimos dias da sua vida. Escrevi na nota de alta um resumo do que se tinha passado com a Ana durante o internamento, e a minha tutora assinou todos os papéis referentes à alta. Informei a Ana da situação, o que a deixou um pouco apreensiva por não saber como poderia ter em casa as condições necessárias. Tranquilizei-a, certamente a Assistente Social iria enquadrar adequadamente a situação. A minha tutora falou pelo telefone com o António. Ficou bastante atrapalhado com a decisão, mas prometeu ir busca-la ao hospital naquela tarde.

Na manhã seguinte tudo foi muito confuso. Ao chegar ao serviço, constatei que a Ana ainda estava internada. Perguntei à Enfermeira Chefe se tinha acontecido alguma coisa em relação com o seu estado clínico. A Enfermeira Chefe afirmou: "Não, o marido é que não a veio buscar. Disse que vinha mas não veio. Abandonou-a.". Senti-me imediatamente revoltado com a situação, e contei tudo isto à minha tutora. Nisto fomos informados que o António estava ao telefone. Uma vez que tinha sido sempre eu a lidar com ele, a minha tutora entendeu que deveria ser novamente eu a falar com ele. E assim foi. Perguntei-lhe porque é que não a tinha vindo buscar, ao que me respondeu não estar preparado para a levar para casa, onde não tinha condições para a ter. Quando lhe transmiti que a impressão com que o serviço tinha ficado era a de que ele a teria abandonado disse-me que se dirigiria de imediato ao hospital. Já transtornado com toda aquela confusão, recebo em seguida uma informação que me gelou o peito. A Assistente Social informou-me que foi ela mesma a dizer ao António que não valia a pena ir buscar a Ana enquanto não se conseguisse encontrar um local com cuidados de enfermagem adequados à fase terminal em que se encontrava. Apercebi-me que tinha havido um enorme mal-entendido provocado pela falta de comunicação dentro do serviço, e que por causa dele eu tinha "acusado" injustamente o António de deixar a impressão de abandono.
Assim que o António chegou ao hospital chamei-o para esclarecer tudo o que se tinha passado. Expliquei todos os pormenores do mal-entendido, e pedi as minhas sinceras desculpas pelo papel que eu nele tinha tomado. Contou-me entretanto que tinha encontrado um local onde a Ana poderia ficar internada temporariamente, onde teria acesso aos cuidados de que necessitava. Despedimo-nos com um aperto de mão, ambos com lágrimas nos olhos. E nessa tarde a Ana saiu do hospital.

Dois meses mais tarde o Chefe de Serviço chamou-me ao seu gabinete. Perguntou-me o que sabia da situação da Ana, do seu internamento e da sua alta. Estranhei as perguntas, mas sentia a consciência perfeitamente tranquila em relação ao que tinha sucedido e às "pazes" que tinha feito com o António. Explicou-me, o Chefe de Serviço, que tinha chegado uma queixa ao Gabinete do Utente do Hospital. Com um ar grave, que me preocupou bastante, explicou-me que a carta tinha sido escrita pelo António, e que se tratava nitidamente da escrita de um homem perturbado por uma situação extremamente desagradável. Afirmou que, sendo eu aluno do 6º ano, o único elemento médico responsabilizável pela queixa seria a minha tutora. Fiquei muito apreensivo quando me disse, mais uma vez com um tom sério e grave, que não sabia se seria prudente eu ler a queixa. Informou-me do teor extremamente agressivo da carta em relação à minha pessoa. Pedi, porque não poderia dormir descansado sem conhecer o conteúdo da carta, para ter acesso a uma cópia da carta.
Saí do serviço com o coração nas mãos, junto da cópia da carta que levei para ler mais tarde. Não consegui ler "mais tarde", assim que me encontrei sozinho num corredor mais recatado do hospital comecei a ler a carta. Tinha cinco páginas, onde o António dirigia para mim toda a raiva que tinha contra o cancro que matou a Ana dez dias depois da alta hospitalar. Li o meu nome repetidas vezes, adjectivado da forma mais atroz e cáustica. Afirmava ser eu "um desses tipos" que entra para o curso de Medicina sem qualquer vocação. Afirmou ter sido eu o responsável pela morte da esperança, quando incessantemente o assegurava da morte certa. Sentia-me tonto a cada linha que lia, sentia-me pisado, subtraído de mim mesmo. Lia o meu nome vezes sem conta, rodeado das mais ferozes e enraivecidas acusações. Acusava-me de falta de humanismo, de falta de sensibilidade, de excesso de presunção e de ignorância. Aconselhava-me a escolher outro rumo para a minha vida, outra profissão, outros saberes. Contava-me como eu não prestava para ser médico e deveria repensar a minha vocação. Responsabilizava-me de forma exclusiva, por fim, pela morte da Ana. Crescia em mim, a cada linha que lia, uma raiva cada vez maior, que se libertou numa enxurrada de lágrimas.

Amadureci muito com este episódio. Não teve, para mim, consequências legais ou profissionais, mas marcou-me muito. Custa-me ainda hoje, cerca de um ano depois, escrever sobre o que aconteceu. Ainda hoje sinto um nó na garganta, uma imensa tristeza, ao recordar aquelas palavras cruéis. Sobretudo cruéis, muito cruéis. A raiva inicial desapareceu depressa, e percebi que aquela carta era o produto de um sofrimento enorme por que passava o António. A revolta do António em relação à doença que matou a Ana foi integralmente transferida para mim. E, obviamente, como poderia eu não perdoar um homem profundamente perturbado por uma dor imensa?
Muitas vezes, hoje em dia, me lembro do que aprendi com esta situação. Aprendi a defender-me da realização de tarefas que não devem ser da minha competência. Aprendi a resguardar-me da entrega excessiva, do investimento emocional excessivo. Aprendi a fugir dos potenciais problemas, fiquei um pouco mais frio. Para me escudar de sofrimentos semelhantes. Não perdi a capacidade de sentir. Mas muitas vezes, hoje em dia, recordo o sabor a fel.

sábado, 19 de fevereiro de 2005

Parabéns!!

Faz hoje anos o amor da minha vida.
A ela, obrigado. Obrigado por estares aí nos momentos bons e naqueles menos bons. Obrigado por partilhares comigo os teus momentos bons, e todos os menos bons também.

Parabéns!!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

Decisão de Recusar Suporte de Vida Cabe ao Doente

Por JOANA FERREIRA DA COSTA
in Público, Quinta-feira, 17 de Fevereiro de 2005

"Um parecer aprovado pelo Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) admite a suspensão dos tratamentos de suporte básico de vida a doentes em estado vegetativo persistente (EVP).
No parecer, concluído na terça-feira e que hoje será apresentado em conferência de imprensa, os peritos clarificam que "toda a decisão de início ou suspensão dos cuidados básicos da pessoa em EVP deve respeitar a vontade do próprio". Ou seja, mesmo quando contraria a vontade da família ou dos próprios médicos, tem primazia o desejo manifestado pelo doente antes de cair neste estado de ausência de consciência. E mesmo quando o doente não manifestou expressamente essa vontade, a recusa de cuidados básicos de vida poder ser manifestada por pessoa de confiança previamente designada pelo paciente.
O EVP surge geralmente em consequência de um traumatismo craniano ou de uma paragem cárdio-respiratória, com profundas consequências a nível neurológico. Os doentes ficam sem capacidade de pensar ou agir conscientemente, mas respiram sozinhos, têm ciclos de sono e vigília normais, por vezes mexem-se, e podem até chorar. Ficam totalmente dependentes, só se mantendo vivos se forem alimentados e hidratados artificialmente.
"São casos diferentes do coma ou da morte cerebral, em que a actividade cognitiva também não existe", afirmou ao PÚBLICO um dos autores do documento e professor da Faculdade de Medicina de Lisboa, Vaz Carneiro.
"Estes são casos clínicos raros, que geralmente resultam em morte ao fim de três anos a cinco anos". Apenas um por cento dos doentes recupera, mas o clínico diz não ter conhecimento, na sua prática médica, de nenhum caso em que o paciente tenha abandonado o EVP.
No parecer - que não é vinculativo, funcionando como uma orientação ética para a classe -, a autonomia do doente prevalece e deve ser respeitada em qualquer caso. Mesmo quando o doente não manifestou expressamente vontade de prescindir dos cuidados básicos de vida, que incluem a alimentação e hidratação artificiais. "Se, como geralmente acontece, não existe uma vontade expressa do doente em EVP sobre o que lhe deve ser feito numa situação deste tipo, devemos tentar adivinhar junto de pessoas que o conheceram qual seria a sua posição sobre este matéria".
Uma tarefa no mínimo difícil, sobretudo se contrariar a vontade da família, mas que deve ser acautelada pelos médicos, admite Vaz Carneiro.

Situação é diferente da eutanásia
O clínico diz que esta situação nada tem a ver com a eutanásia, já que não há vontade do doente em morrer, mas simplesmente de não ver prolongar o tratamento. "Os médicos devem lutar para beneficiar o doente, mas prolongar artificialmente a vida pode tornar-se também um malefício", afirma Vaz Carneiro.
De qualquer forma, frisam os peritos no documento, "não poderão ser aplicadas soluções uniformes às pessoas em EVP, impondo-se uma avaliação criteriosa de cada situação".
O parecer, elaborado também por João Lobo Antunes e António Falcão de Freitas (entretanto falecido), foi votado pelas duas dezenas de membros do Conselho, tendo a definição do que são suportes básicos de vida ou tratamento sido um dos pontos mais polémicos. Acabou por ficar definido que a alimentação e hidratação artificiais são suportes básicos de vida.
A tomada de posição do CNEV foi suscitada por um pedido de um hospital de Lisboa, a propósito de um caso concreto de um doente em estado vegetativo persistente. No documento, os peritos admitem haver uma série de questões que era importante clarificar a nível ético para a generalidade dos casos, frisando a necessidade de uma análise caso a caso."

Fel (parte 2)

O meu primeiro contacto com a Ana foi relativamente assustador. Tinha ambos os membros superiores ligados, para tentar reduzir os inchaços, e tinha o tórax enfaixado como forma de fazer o penso da lesão na mama esquerda. A face estava extremamente inchada, não tinha cabelo, e falava com muita dificuldade. A sua voz era muito rouca, quase inaudível. Não conseguia andar, e estava sentada no cadeirão. Tinha uma dificuldade respiratória marcada, não conseguindo articular uma frase seguida sem parar para ganhar fôlego. Sentei-me ao lado dela e falei com ela durante algum tempo, tentando perceber tudo o que se tinha passado e estaria a passar naquele momento. Um enfermeiro veio mudar o penso entretanto, e pude observar horrorizado a lesão que tinha no tórax. Era uma massa enorme, com aproximadamente 20 cm de diâmetro, arroxeada, com uma cratera no centro de onde saía tecido necrosado e pús com abundância. A imagem era assustadora, e a Ana olhava para ela com a indiferença de quem conhece bem o seu inimigo.

O problema que tinha levado a Ana às Urgências parecia corresponder à primeira vista ao chamado "Síndrome da Veia Cava Superior". Isto significa que por algum motivo a veia que leva ao coração o sangue proveniente da cabeça e membros superiores não estava a drenar o sangue adequadamente, pelo que estes territórios estavam inchados. O mais provável, tendo em conta a neoplasia da mama em estadio avançado, era que uma metástase estivesse a comprimir essa veia. Por esse motivo pedimos uma TAC torácica. Esta confirmou as nossas suspeitas: havia uma metástase a comprimir a Veia Cava Superior. Iniciou imediatamente radioterapia dirigida especificamente àquela metástase, em acordo com o oncologista que a seguia. O objectivo era reduzir as dimensões daquela metástase para que o sangue fluisse normalmente e pudessemos providenciar um pouco mais de qualidade de vida à Ana.
A TAC mostrou-nos ainda a presença de múltiplas metástases pulmonares e um derrame pleural extenso à direita (líquido em volta do pulmão). Quanto às metástases, nada podíamos fazer, mas o derrame agravava a falta de ar. Decidimos por esse motivo drenar o líquido do pulmão, para melhorar a falta de ar que ela sentia. Assim fizémos.
O internamento foi muito prolongado, e recheado de complicações. Surgiu uma peumonia grave, que tratámos com os antibióticos adequados. O derrame pleural voltou a aparecer, e foram tentadas várias técnicas para impedir o seu reaparecimento, com sucesso limitado. O "inchaço" foi melhorando progressivamente, e a falta de ar foi também melhorando com os sucessivos tratamentos. Aos poucos foi recuperando um pouco da sua autonomia, passando a ser capaz de se alimentar sozinha, se bem que com muita dificuldade.

O António estava sempre presente. Estava muitíssimo perturbado por toda aquela situação, e mantinha a ilusão de a levar novamente para Espanha depois do internamento para retomar a quimioterapia experimental. Todos os dias falava com os enfermeiros responsáveis pela Ana, pressionando para que eles agissem desta e daquela forma. Perguntava coisas sobre os tratamentos que lhe estavam a ser feitos e duvidava constantemente da nossa competência. Todos os dias falava comigo. Perguntava-me pelo estado dela, e questionava a eficácia dos tratamentos que lhe estavam a ser efectuados. Fui sempre absolutamente honesto com ele, e por mais do que uma vez o levei para a sala dos médicos, sentei-me ao lado dele e expliquei-lhe a extrema gravidade e irreversibilidade da situação da Ana. Após essas francas conversas (e sempre na presença de uma médica mais graduada, já que eu era apenas um aluno de 6º ano), ele parecia ceder um pouco mais à cruel realidade da situação que destruia a Ana e a matava um pouco mais a cada dia que passava. Inexoravelmente.

Continua...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2005

Uma ajudinha

Marido e mulher entram no consultório em simultâneo. Quem tem consulta é ele, ela vem "para controlar", palavras ditas por ela mesma. Ele sorri, com um sorriso malandro, sabe o que quer esconder. Sabe também que não esconde, que está às claras. Antes do mais chegam os pseudo-motivos de consulta. "É para o Check-up", dizem. Quere um exame ao coração, quer isto e aquilo, e a mulher exige mais alguma coisinha. Fala das dores e mores dores, entre "ai!" e "ui!", "quando carreg-ah!-ah!-ah! aí mesmo!!!".
No final da consulta, com descontracção, conta-nos que não tem potência sexual (estes assuntos, que realmente levam as pessoas ao Centro de saúde, ficam sempre para o fim, depois de um "Ah, é verdade, mais uma coisinha..."). A mulher salta em sua defesa: "Ai, para o que é chega doutora!! Está muito bem assim, deixe-o estar!". Indiferente às palavras da mulher, continua: "Mas não é a mesma coisa de antes... Antes chegava e sobrava, entende? Agora fraqueja mais... Não me dá aí uma ajudinha? Tenho um amigo que faz o Cialis, diz que aquilo agora é que é uma bomba!!". A mulher não se deixa calar, e explica que se é só para ela chega. Reclama "Está MUITO bem assim! É da maneira que sei o que não fazes!...". Dou uma olhadela pelo canto do olho ao processo clínico dele, e percebo que tinha vindo há uns tempos à consulta preocupado com doenças venéreas. Ele ignora a presença da mulher em absoluto, e com um sorriso malandro diz mais uma vez "Passe lá aí os comprimidinhos para eu fazer a minha vidinha...". A mulher bufa e estrebucha, e sai bufando e estrebuchando atrás dele do consultório...

sábado, 12 de fevereiro de 2005

Fel (parte 1)

A Ana tinha descoberto aos 35 anos que tinha um cancro da mama direita. Fez na altura mastectomia radical (remoção da mama direita por inteiro) e quimioterapia. Quando tudo parecia controlado, apareceu uma metástase (massa tumoral originária do mesmo tumor mas numa localização diferente) na mama esquerda. Mais uma vez, desta feita aos 38 anos, fez mastectomia radical esquerda, e novamente quimioterapia.
Com o passar do tempo começou a perceber-se que o pesadelo não tinha passado, estava apenas adormecido. Surgiu uma recidiva local (reaparecimento no mesmo sítio) da metástase na mama esquerda, e as sucessivas tentativas de remoção do tumor pareciam ineficazes. Voltava sempre a aparecer.
Aos poucos começavam a manifestar-se metástases noutros locais. Uma metástase numa vértebra atirou-a para a cama. O crescimento desta metástase comprimia-lhe a medula espinhal de forma tal que practicamente lhe paralisava ambas as pernas. Fez radioterapia dirigida a esta metástase, para a fazer diminuir de tamanho e tentar recuperar um pouco a capacidade de andar. As melhoras que teve, pouco duradouras, permitiam-lhe apenas deslocar-se com ajuda.
Também no cérebro existiam metástases. Suspeitou-se da sua existência pelas dores de cabeça que a Ana referia, bem como falta de força no braço esquerdo. Os pulmões também não escaparam, e as metástases pulmonares provocavam-lhe uma falta de ar constante. Perto dos pulmões, metástases nos gânglios linfáticos comprimiam-lhe o esófago, pelo que tinha dificuldade em engolir. Comprimiam ainda um nervo que inerva as cordas vocais, pelo que ficou muito rouca. Fazia-se entender com muita dificuldade, faltava-lhe a rouca voz que lhe restava.
Foi sempre, ao longo da evolução da sua doença, seguida por um oncologista (especialista em cancro). Visto tratar-se de uma mulher muito nova foram tentadas todas as técnicas terapêuticas conhecidas. Fez inúmeros ciclos de quimioterapia e radioterapia, cujos efeitos devastadores a debilitavam para além do que a própria doença era capaz.
O António, o seu marido, sofreu muito durante todo este tempo. Esteve sempre presente ao seu lado, sempre muito preocupado com o seu bem estar. Mais do que isso, o António sempre se recusou, até mesmo quando o oncologista o disse a olhar-lhe nos olhos, a admitir que era chegada a altura de deixar a morte chegar. Não acreditava que diminuir o sofrimento fosse a única coisa passível de ser feita. Levou a Ana para Espanha para fazer quimioterapia experimental. O oncologista, avisando da fatalidade da evolução da doença naquela fase avançada, não lhe negou essa tentativa. Poderia ele extirpar o último fio de esperança que o António e a Ana fitavam no horizonte? Ciclos poderosíssimos de quimioterapia experimental, cuja eficácia não estava demonstrada, debilitaram a Ana de uma forma extrema. E, como tinha sido dito pelo oncologista, não curaram a doença. Nem sequer atrasaram a sua progressão.
Alguns dias depois do regresso de Espanha surgiu um novo sintoma. Toda a face e membros superiores estavam "inchados". Foi por esse motivo que se deslocou às Urgências de um grande Hospital de Lisboa. Ficou internada no Serviço de Medicina Interna onde eu estagiava como aluno do 6º ano, ao cuidado da minha orientadora de estágio.

Continua...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

O José e os seus

Hoje o José é o Rei da Pérsia. Está sentado na sua cadeira, grande barriga saliente, espetada na nossa direcção. Assim o intitulamos. Corrige, não é o Rei da Pérsia, isso pensamos nós. É o Presidente dos Estados Unidos. Falta-lhe o ar néscio, mas fingimos acreditar. A mãe do Rei da Pér... perdão, do Senhor Presidente, está sentada na cadeira do lado. Está com um ar bastante deprimido. O marido, constatamos no processo clínico, já não vem à consulta há três anos, o que se passa? Bebe muito, o pai do Senhor Presidente. Bebe demais, bate na mulher e no filho. A outra filha já saiu de casa, namora com um tipo que parece que lhe está a meter um pouco de juizo na cabeça. As drogas duras tiraram-na de casa, parece que o novo namorado a tirou da rua. A mãe está de facto com um ar bastante deprimido. Uma olhadela pelo canto do olho para o processo clínico, percebo que já está a fazer antidepressivos e ansiolíticos em doses simpáticas. O José ri-se, ri-se da Indira Gandhi, que faz perguntas estranhas à mãe sobre os vícios do pai. A personagem que encarna muda consoante a consulta, bem como a da médica de família. Na verdade não são personagens, peço desculpa Senhor Presidente, são a verdade absoluta do momento. O José não é alcoólico como o pai (apesar de já ter passado por isso), nem toxicodependente como a irmã. É esquizofrénico. E a mãe, a mãe do Senhor Presidente (que na última consulta era o Napoleão), mãe da Inês (aquela que talvez se safe por causa do namorado novo, ou talvez não), mãe do próprio marido (que a agride embriagado com a visão toldada pelo álcool, e porque não quando está sóbrio, mas menos...), é deprimida. Não é alcoólica, toxicodependente ou mesmo esquizofrénica. É realista.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2005

O infinito mundo do papel

Vivemos no país do papel. Precisamos de papéis para tudo, desde que nascemos, passando pela escola, pelo desporto, pela faculdade, pela vida profissional, pelo casamento, pelo divórcio... Desconfio que até para morrer temos que ter um atestado médico em como estávamos vivos a priori... Para tudo precisamos de certificados, atestados, comprovativos.

O médico, especialmente o Clínico Geral, não foge à regra. Fora todos os papéis que tem que tratar para seguir a sua vida normal, no trabalho enfrenta uma pilha de papéis para tratar, que distraem e ocupam o médico afastando-o do seu verdadeiro objecto de trabalho: o doente.
Por um lado temos a repetida exigência da responsabilização do médico para a desresponsabilização da sociedade. Hoje em dia é preciso atestado médico para fazer um contrato, para entrar para a ginástica, para a escola, para a faculdade, para faltar ao emprego e até, imagine-se, para estacionar o carro dentro do cemitério. Estranho mas verídico: na cidade onde trabalho o familiar de um doente falecido precisa de declaração médica para estacionar o carro no interior do cemitério, alegando que está impossibilitado de se deslocar até à campa por motivos de saúde. É que o cemitério é grande... As companhias de seguros, as escolas, as empresas, os ginásios e até, imagine-se, os cemitérios, desresponsabilizam-se de todo e qualquer mal que possa acontecer, responsabilizando o médico por tudo e por nada. Mas alguém acredita que um atestado de robustez física é absolutamente fidedigno? Mesmo que o médico que o passe faça um exame objectivo completíssimo, faça uma série de exames complementares de diagnóstico da mais alta tecnologia, isso iliba o doente de adoecer? Por muito apertado que seja o crivo, há sempre situações inesperadas! E se elas surgem quem é responsável? O médico, claro.
Depois vêm as receitas. Todos os dias o Clínico Geral tem uma pilha de receitas para passar, que os doentes deixam nas administrativas. Não são duas ou três receitas: na sexta-feira eu e a minha tutora estivémos 1h30 a passar receitas, declarações e exames complementares de forma ininterrupta. No final, tinhamos uma pilha de receitas enorme, todas passadinhas. À mão, porque infelizmente a informatização está longe, muito longe, de chegar a todos os Centros de Saúde. E nessa hora e meia, que seriam duas horas e meia se eu não estivesse a ajudar, quantas consultas poderiam ser feitas?! Quantos doentes deixavam de ir para casa a resmungar com o médico, o governo e o mundo porque já não havia consultas para hoje, apesar de ter chegado ao CS às 8h30 da manhã? Isto, claro, não esquecendo que o grau de satisfação do Clínico Geral seria superior se se dedicasse mais aos doentes e menos aos papéis, o que aumentaria exponencialmente a sua produtividade...
Claro que há regras a cumprir ao preencher os mil e um papéis... Se é ADSE, a receita vai no papel preformatado, mas se é ADME já não... Mas para os exames complementares só o SNS vai no papel verde, para os outros subsistemas vai no papelinho branco timbrado. Há depois o papel castanho para a referenciação para o Hospital, que serve também para as fisioterapias, justificação de exames complementares de diagnóstico, etc... Ah, e quanto a esses, há alguns que têm que ser assinados pela Directora do Centro, que assina de cruz porque não vai questionar a competência do colega. Para a função pública passam-se atestados, para os outros tem que ir o papel da baixa. Todos os papéis precisam da mágica vinheta cor-de-burro-quando-foge, sinal do poder burocrático do médico. Não esquecer ainda que, no Hospital, o número da Ordem dos Médicos se põe nas requisições do serviço de sangue, enquanto que nas do Laboratório tem que ir o número mecanográfico do hospital...

Vivemos no infinito mundo do papel. Se simplificarmos um pouco as coisas, mantendo obviamente a segurança, rigor e inviolabilidade indispensáveis a estas coisas, trabalhamos todos mais felizes e produzimos todos mais trabalho. E trabalho é riqueza, pessoal e colectiva. Como dizia o outro, "Deixem-nos trabalhar!!".

sábado, 5 de fevereiro de 2005

Uma história entre muitas

Chamámos pelo intercomunicador a doente seguinte. Antes disso, a minha tutora explicou-me a história da doente.
Era a Andreia, de 35 anos. Tinha iniciado, há um ano atrás, um quadro de dificuldade em engolir e sensação de enfartamento. Tinha dores abdominais, e perdeu alguns quilos num curto espaço de tempo. Através de uma endoscopia (exame em que um tubo é introduzido pela boca para observar o interior do esófago e estômago) foi-lhe diagnosticado um tumor gástrico (cancro do estômago). As primeiras palavras da Andreia, ao tornar-se conhecedora do diagnóstico, foram de esperança e confiança. Foi adequadamente referenciada, tendo sido operada no IPO. Foi-lhe removido todo o estômago. A Anatomia Patológica confirmou o diagnóstico, era de facto um tumor do estômago. Felizmente parecia não haver quaisquer metástases, parecia estar de facto confinado ao estômago.
Passado algum tempo da cirurgia, regressou à consulta de Clínica Geral. Tinham recomeçado as queixas, em tudo semelhantes às anteriores. O tumor tinha recidivado. Continuou a ser seguida no IPO, onde ponderam agora as terapêuticas possíveis.

Entrou no consultório, onde vinha pedir o prolongamento da baixa. Vinha com duas crianças pela mão. O mais pequeno tinha 1 ano e meio, e estava, sorridente ao colo da mãe. A mais velha, com 10 anos, olhava, cabisbaixa, para o chão. Acompanhava sempre a mãe nas suas frequentes visitas aos médicos. Não esboçou um sorriso durante a consulta, nem mesmo quando a minha tutora elogiou as madeixas vermelhas do cabelo dela. A mãe, essa, não tinha mais palavras de optimismo e esperança. Tinha o desalento estampado no rosto, a tristeza no olhar, e a morte no pensamento.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

O Clínico Geral (3)

Antes de mandar entrar o doente seguinte a minha tutora de Clínica Geral disse-me: "Olha, este... A irmã dele morreu no mês passado... Tinha uma neoplasia pélvica, demorámos imenso tempo a perceber o que se passava com ela. Andou entre o CS e a Ginecologia do Hospital tempos e tempos até aquilo se manifestar a sério. Tinha 35 anos, coitada. A mãe deles veio cá ontem, está com uma depressão, claro. Ele deve cá vir só mostrar exames. Anda no mergulho, veio cá pedir-me os exames que precisa para a licença de mergulho. Também deve andar a antidepressivos, numa situação destas... E ele não deve ter aguentado isto muito bem, já quando o pai morreu se foi muito abaixo.". Entra o doente, confirma-se tudo.
Mal acaba de sair este doente irrompe pela sala de consulta uma senhora obesa, rosada e ofegante. "Esqueceu-me da consulta de ontem, Doutora! Atenda-me lá hoje, Doutora!". Por escassos momentos fez-se difícil: "Só se for aqui com o Dr. JC! Pode ser?". A doente olhou para mim, atrapalhada, e disse que "não desfazendo Doutor, até pode ser muito bom médico, mas quem me tira a minha Doutora tira-me tudo!". Como a consulta hoje (surpreendentemente) até estava mais ou menos calma, autorizou a consulta. Seguiu-se uma explosão de abraços e beijinhos, entre os quais exclamava "É a minha Doutorazinha! Que é que eu fazia sem ela?!". Assim que ela saiu, a minha tutora disse-me que ela não tinha doença nenhuma nova, de certeza, só lá ia para fazer visita. Pude comprovar no final das consultas que ela tinha toda a razão do mundo.
Pelo meio das consultas surgem pedidos de renovação de receituário (os doentes com medicações crónicas deixam nos administrativos os medicamentos para "a Doutora fazer o favor de passar"). Entre a papelada um pedido de "certificado médico para entrar com o carro no cemitério" (esta desresponsabilização da sociedade por troca com a responsabilização do médico atingiu os limites do que eu consideraria aceitável, mas enfim...). "Então a mulher dele já morreu... Coitada, andou aqui num calvário com um linfoma... Não tem sorte nenhuma na vida, este homem, parece que lhe acontece tudo!".

Hoje saí do Centro de Saúde impressionadíssimo. Como é possível que, com uma lista enorme de utentes, a minha tutora saiba tudo sobre a vida, doenças e morte de cada um dos seus doentes?! Compreendo perfeitamente que os doentes digam, com orgulho "é a MINHA Doutora!!". De facto impressionante.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2005

Novo mês, nova vida

Ora bom, agora que já me tomam por Ginecologista/Obstetra, acabou o meu estágio na Ginecologia/Obstetrícia. Como puderam perceber pelo "cheirinho" do meu estágio que pude partilhar com vocês, foi um mês recheado de histórias interessantes, umas mais felizes que outras. Agora inicia-se um novo ciclo, que promete ser bem mais variado. Iniciei hoje o estágio de Medicina Geral e Familiar (a especialidade médica tradicionalmente chamada Clínica Geral). Durará três meses, e promete ser fonte de muitas e variadas histórias, que não são mais do que as histórias das gentes comuns, contadas pelo meu prisma.