quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Resoluções
- Acabar com a procrastinação. Mas só a partir de dia 1. Ou 2, que 1 é feriado. 2 estou de banco... 3 estou de saída e é Sábado...
- Fazer tudo o que tenho em atraso de 2008. E de 2007. E de 2006...
- Ver o meu filho crescer
- Namorar nos intervalos
- É desta que o IMC vai ao sítio
- Fazer melhores resoluções de ano novo
FELIZ ANO NOVO!!
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Coisas
domingo, 28 de dezembro de 2008
Caos
Anda o caos instalado nas Urgências Hospitalares. Tanto nas de adultos como nas pediátricas. A alegada razão: gripe. Honestamente, recordem-se do que faziam os nossos pais e avós quando nós tinhamos gripe: davam-nos chazinho a beber (nas mais variadas versões, desde o clássico chá de casca de cebola ao cházinho da Milupa), qualquer coisa doce (mel, xarope de cenoura...), metiam-nos na cama e davam-nos um rolo de papel para o ranho. Depois mimavam-nos até mais não, tratavam-nos a febre com os antipiréticos disponíveis, e deixavam-nos exigir as mais variadas coisas à vontade, desde dormir como se não houvesse amanhã até ver desenhos animados o dia inteiro... E depois a gripe passava, nós voltávamos à escola, e comparávamos com os colegas as maleitas de que tinhamos sido vítimas. Não iam para as Urgências, entupir o Sistema Nacional de Saúde de ranho, e dessa forma comprometer a adequada e atempada assistência às crianças e adultos que delas precisam mesmo: aqueles que estão a morrer. Porque o que se passa hoje em dia é uma deturpação absoluta daquela que é a intenção da existência das Urgências Hospitalares: atender pessoas que correm, mais ou menos imediatamente, risco de vida, e aquelas que são referenciadas de outras unidades de saúde por não terem os meios complementares que consideram adequados para aquelas situações em particular...
Conclusão: vive-se (e não é de agora) uma perversão enorme do sistema. Demasiadas pessoas recorrem às Urgências Hospitalares sem que efectivamente cumpram critérios para serem vistas nessas unidades, o que engrossa os tempos de espera e piora os cuidados prestados às que efectivamente necessitam de nós. O investimento tem que passar pelos Cuidados de Saúde Primários (Centros de Saúde, SAPs), mas isso é impossível de se concretizar se a população não perceber que está efectivamente a arruinar o sistema ao contornar a ordem lógica! O que acabará por acontecer, a este ritmo, é que os Hospitais vão ter que passar a funcionar com a porta fechada para o público. As inscrições nas Urgências serão limitadas àqueles que vêm em situação emergente (risco imediato de vida) e aos doentes referenciados de outras unidades de saúde. Para que isso não tenha que acontecer, a imposição da utilização racional do SNS, essa racionalidade tem que começar a existir por si...
Que sirva este desabafo para passar a mensagem a alguns...
Conclusão: vive-se (e não é de agora) uma perversão enorme do sistema. Demasiadas pessoas recorrem às Urgências Hospitalares sem que efectivamente cumpram critérios para serem vistas nessas unidades, o que engrossa os tempos de espera e piora os cuidados prestados às que efectivamente necessitam de nós. O investimento tem que passar pelos Cuidados de Saúde Primários (Centros de Saúde, SAPs), mas isso é impossível de se concretizar se a população não perceber que está efectivamente a arruinar o sistema ao contornar a ordem lógica! O que acabará por acontecer, a este ritmo, é que os Hospitais vão ter que passar a funcionar com a porta fechada para o público. As inscrições nas Urgências serão limitadas àqueles que vêm em situação emergente (risco imediato de vida) e aos doentes referenciados de outras unidades de saúde. Para que isso não tenha que acontecer, a imposição da utilização racional do SNS, essa racionalidade tem que começar a existir por si...
Que sirva este desabafo para passar a mensagem a alguns...
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Hospital
domingo, 21 de dezembro de 2008
Três magos
Os três reis magos, num post jázzico de natal! Oscar Peterson a acompanhar magistralmente no piano dois génios do sopro, Stan Getz e John Coltrane!!
Feliz Natal!
Feliz Natal!
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Every other sunday Jazz
sábado, 20 de dezembro de 2008
Vinte anos depois...
Silêncio absoluto. Noite cerrada, nem uma luzinha de presença. Lá fora o frio, sem chuva. O quentinho dos lençóis embalava-me já há bastantes horas, num retempeador sono de guerreiro, a famigerada saída de banco. Sonhava com alguma coisa, nem sei já o quê, algo confuso e agitado que contrastava com o pacífico exterior. Fugia de algo? Precisava de saltar! Rápido! E sem como nem porquê "PAM!!!". Baralhado, estava sentado, costas encostadas a algo duro, e o frio - onde estão os lençóis? O colchão fugiu? No Hospital não estava, a consistência do tapete em baixo do meu rabo era o do meu quarto. "J.? Estás bem?!". Que raio de pergunta, não se vê? Caí da cama... O contexto confuso-onírico dava ainda sentido ao salto fugitivo do mal que me assolava, transformando ironicamente a pergunta preocupada numa pergunta retórica. Claro que estava bem, mal estaria se não tivesse saltado. Deito-me, sem mazelas, e viro-me para o outro lado. Não nos lembrámos disto na manhã seguinte, mas o que rimos, na noite seguinte ao deitar, quando vi a mesa de cabeceira toda à banda e me lembrei do episódio...
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Coisas
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Da morte
Não era suposto. Ele tinha sido sempre saudável, gostava de comer fruta e ria-se sempre das brincadeiras do pai, por mais que ele as repetisse. Já se punha de pé no berço, agora andava com a mania de se pôr de pé na cama a meio da noite e gritava "mããããããã!!!". E lá tinham os pais que se levantar, para lhe pôr a chucha e deita-lo novamente, teria a prática das novas habilidades que ficar para o dia seguinte. Não era suposto. Tantos velhos, moribundos, a quem a morte não chega nem que eles a chamem pelo nome. E logo ele, de todos ele.
Vim plenamente consciente disto. Escolhi Pediatria, não por gostar de crianças (gosto, certamente), não por serem engraçadas e por serem mais genuínas. Vim porque sei que tenho esta missão, de fazer por tudo para as salvar da morte, e de, até, ajudar a morte a leva-los em paz quando assim tem que ser. Porque nem todas as crianças sorriem, como este sorria, nem todas as crianças correm, como este corria. E também às vezes a morte de uma criança vem como um alívio. Não é só a morte do velhote que sofreu anos a fio que chega como ponto final de um sofrimento arrastado. Ao contrário desse velhote, que conta com uma vida recheada de vivências e acontecimentos, para algumas crianças a vida nunca chega a se-lo. E, para algumas, desejamos que o gesto salvador nunca tivesse sido. Mas sabemos lá... Pois, as crianças também morrem. Também sofrem. Mas sou projecto de Pediatra por essas também, e talvez mesmo (quem sabe do futuro?) para essas que dançam no limbo entre a vida e a morte. E se puder fazer, realmente, a diferença para alguns dormirei tranquilo. Alguém tem que estar cá para elas. Porque ser Pediatra não é (só) ter oportunidade de lidar com crianças, como a alguns (pouco avisados) parece. É lidar com crianças doentes, e nem todas as doenças em pediatria são o ranho e a tosse. Alguns morrem, como este que não vos conto.
Um dia conto-lhe, Dr. MA, como me inspirou a querer ser mais.
Vim plenamente consciente disto. Escolhi Pediatria, não por gostar de crianças (gosto, certamente), não por serem engraçadas e por serem mais genuínas. Vim porque sei que tenho esta missão, de fazer por tudo para as salvar da morte, e de, até, ajudar a morte a leva-los em paz quando assim tem que ser. Porque nem todas as crianças sorriem, como este sorria, nem todas as crianças correm, como este corria. E também às vezes a morte de uma criança vem como um alívio. Não é só a morte do velhote que sofreu anos a fio que chega como ponto final de um sofrimento arrastado. Ao contrário desse velhote, que conta com uma vida recheada de vivências e acontecimentos, para algumas crianças a vida nunca chega a se-lo. E, para algumas, desejamos que o gesto salvador nunca tivesse sido. Mas sabemos lá... Pois, as crianças também morrem. Também sofrem. Mas sou projecto de Pediatra por essas também, e talvez mesmo (quem sabe do futuro?) para essas que dançam no limbo entre a vida e a morte. E se puder fazer, realmente, a diferença para alguns dormirei tranquilo. Alguém tem que estar cá para elas. Porque ser Pediatra não é (só) ter oportunidade de lidar com crianças, como a alguns (pouco avisados) parece. É lidar com crianças doentes, e nem todas as doenças em pediatria são o ranho e a tosse. Alguns morrem, como este que não vos conto.
Um dia conto-lhe, Dr. MA, como me inspirou a querer ser mais.
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Hospital
sábado, 13 de dezembro de 2008
domingo, 7 de dezembro de 2008
O pato
Algo infantil, mas absolutamente delicioso! O meu filho adora que eu lha cante...
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Every other sunday Jazz
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
E o burro sou eu?!
O meu filho tirou um papelinho no infantário. Disseram-lhe que era para o pai. Podia ter sido um humilde pastor, talvez com sorte um rei mago com ouro ou incenso para o menino. Quem sabe, porque não, o menino Jesus... Não. Burro. Tira um papel para o pai e pimba, burro. Pai, Burro. Para o presépio. Sendo optimista podia ser a vaca. Menos mal.
Bendita avó com jeito para estas coisas!
Bendita avó com jeito para estas coisas!
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
A avó zelosa
A propósito de um comentário da Paula Rodrigues no último post lembrei-me de uma história deliciosa que me aconteceu há uns tempos. Uma criança de 2 anos foi à Urgência Pediátrica acompanhada pela avó, que estava responsável pela neta naquele dia. O motivo era simples: tinha as palmas das mãos e as plantas dos pés amarelas, notara a avó naquele dia. Tinha medo, explicava, da icterícia. Expliquei que a icterícia era diferente, que a "amarelice" aparecia sempre também na esclerótica, o "branco dos olhos". A seguir perguntei se a avó lhe costumava dar muitas cenouras e abóbora, ao que a avó prontamente respondeu, orgulhosa do seu zelo, que "sim, doutor, faz muito bem aos olhinhos!". Quando lhe expliquei que essa era a fonte do "problema" (que de problema nada tem), a chamada carotenémia, mudou a expressão. Quando se apercebeu que a ingestão abundante de alimentos ricos em carotenos provocava aqueles sinais, montou rapidamente um ar de desdém, dizendo secamente: "Isso são coisas da outra avó!..."
Absolutamente delicioso.
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Hospital
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