
E de repente aconteceu. De um momento para o outro, a Sofia não estava bem. Chorava muito, não respondia a nada, simplesmente não estava bem. Foi levada à Urgência, e ao chegar surgiam dados novos. A boca ao lado, a assimetria da face, a suspeita de que teria um AVC. Daquelas coisas que só acontecem aos velhotes, queremos nós achar. Mas não. A Sofia teve um AVC com ano e meio de vida, consequência directa do problema com que nasceu.
Depois vêm as perguntas, como vai recuperar, se vai recuperar, perguntas que nos fazemos a nós próprios, médicos, e que os pais nos fazem a seguir. Perguntas para as quais não há respostas, "só o tempo o dirá, mãe, temos que ter esperança e saber esperar"... E depois vem o agravamento, e já não é só a face é também o braço. E a ressonância magnética, péssima, horrível, desoladora. Meio cérebro morto "e a outra metade, doutor?", não sabemos, "pode recuperar tudo, às vezes é assim com as crianças", mas leram-me o desalento nos olhos, porque lhos mostrei. Porque não lhes posso prometer que sim, que vai ser bom, que vai correr e saltar daqui a uns meses.