Anda o caos instalado nas Urgências Hospitalares. Tanto nas de adultos como nas pediátricas. A alegada razão: gripe. Honestamente, recordem-se do que faziam os nossos pais e avós quando nós tinhamos gripe: davam-nos chazinho a beber (nas mais variadas versões, desde o clássico chá de casca de cebola ao cházinho da Milupa), qualquer coisa doce (mel, xarope de cenoura...), metiam-nos na cama e davam-nos um rolo de papel para o ranho. Depois mimavam-nos até mais não, tratavam-nos a febre com os antipiréticos disponíveis, e deixavam-nos exigir as mais variadas coisas à vontade, desde dormir como se não houvesse amanhã até ver desenhos animados o dia inteiro... E depois a gripe passava, nós voltávamos à escola, e comparávamos com os colegas as maleitas de que tinhamos sido vítimas. Não iam para as Urgências, entupir o Sistema Nacional de Saúde de ranho, e dessa forma comprometer a adequada e atempada assistência às crianças e adultos que delas precisam mesmo: aqueles que estão a morrer. Porque o que se passa hoje em dia é uma deturpação absoluta daquela que é a intenção da existência das Urgências Hospitalares: atender pessoas que correm, mais ou menos imediatamente, risco de vida, e aquelas que são referenciadas de outras unidades de saúde por não terem os meios complementares que consideram adequados para aquelas situações em particular...
Conclusão: vive-se (e não é de agora) uma perversão enorme do sistema. Demasiadas pessoas recorrem às Urgências Hospitalares sem que efectivamente cumpram critérios para serem vistas nessas unidades, o que engrossa os tempos de espera e piora os cuidados prestados às que efectivamente necessitam de nós. O investimento tem que passar pelos Cuidados de Saúde Primários (Centros de Saúde, SAPs), mas isso é impossível de se concretizar se a população não perceber que está efectivamente a arruinar o sistema ao contornar a ordem lógica! O que acabará por acontecer, a este ritmo, é que os Hospitais vão ter que passar a funcionar com a porta fechada para o público. As inscrições nas Urgências serão limitadas àqueles que vêm em situação emergente (risco imediato de vida) e aos doentes referenciados de outras unidades de saúde. Para que isso não tenha que acontecer, a imposição da utilização racional do SNS, essa racionalidade tem que começar a existir por si...
Que sirva este desabafo para passar a mensagem a alguns...
Subscrever:
Comment Feed (RSS)
|