Olá a todos!
Não desapareci, está tudo bem comigo. Simplesmente perdi a vontade de escrever... Acontece de vez em quando! Além disso tenho tanto para escrever em "ortónimo", que o pseudónimo fica a perder...
O espaço fica cá, o que escrevi perdurará enquanto o Blogspot quiser, e eu continuarei com o meu trabalho! E se um dia precisar de desabafar volto. Mas sem hora marcada, que estas inspirações não vêm quando se quer...
No trabalho muita animação, muitas emoções... E MUITO trabalho! E tenho gostado, muito, do que tenho feito! Talvez por isso dirija as minhas energias, as minhas atenções, a minha dedicação para o trabalho. E o blog perde! Mas perde para uma boa causa.
Depois tem que competir ainda com a "Causa Maior", a minha família. Já tenho tempo a menos para eles (que tempo seria demais?!), e não abdico de ser Pai e Marido.
Há alturas para tudo, e não tem sido altura de blogar. Talvez um dia volte a escrever, aqui ou noutros lados, como JC ou como eu próprio. Quem sabe?
A minha identidade (e escrevo sobre isto porque tenho sido muitas vezes abordado por mail para a revelar) permanecerá privada. Por um lado os meus "doentes" merecem o meu respeito, e o sigilo é sagrado. Por outro lado porque não seria ético da minha parte ganhar "clientes" (de consultório ou seja como for) à custa de um blogue que sempre foi anónimo.
A todos os que acompanharam esta minha aventura, obrigado! Talvez os nossos caminhos se cruzem por aí!
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
sábado, 25 de abril de 2009
Sei que estás em festa, pá!
1975 - Chico Buarque numa música de intervenção inspirada pela data que hoje se comemora em Portugal. Esta versão foi censurada, receando inspiração revolucionária do outro lado do Atlântico.
Esta é a versão mais conhecida, que sobreviveu à censura da ditadura militar brasileira:
Esta é a versão mais conhecida, que sobreviveu à censura da ditadura militar brasileira:
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Coisas
quarta-feira, 22 de abril de 2009
A pequena imperadora
O meu amigo psiquiatradanet conta aqui a história da pequena imperadora que ele conheceu. Vale a pena ler, mesmo. É só um caso, um de muitos. O extremo a que chegou a situação da Sofia não é, na maioria das vezes, atingido. Mas numa zona mais cinzenta do espectro encontramos, infelizmente, uma triste maioria.
Uma maioria que desde cedo se habitua à recompensa imediata, aprende a manipular os pais e todos os que estão em seu redor a torto e a direito. O mínimo queixume é atendido com precisão, a mínima frustração é imediatamente recompensada. O processo de aquisição de autonomia é lento e moroso, um passo de cada vez. Desde o dia em que conseguem sozinhos agarrar um objecto, o dia em que começam a dormir sozinhos, o dia em que deixam "o" boneco ou a chucha em casa e dizem "sou crescido". E uma criança que aprende a ser recompensada no imediato não desenvolve tolerância à frustração, não aprende que precisa de insistir e treinar para aprender, para conseguir. E são meninos inseguros, que não acreditam neles próprios, que largam a chucha aos 4 anos, que dormem na cama dos pais até aos 6 anos, e que progressivamente aprendem o caminho mais fácil: não o do esforço, da dedicação, da persistência, mas o da exigência, da dependência. Os mais fortes aprendem que para triunfar necessitam apenas de pedir. Os pais, frustrados pela falta de tempo para os seus filhos - fruto da sociedade "workaholic" em que vivemos -, não têm coragem de dizer que não, de explicar que não, de ensinar que a vida não nos cai nas mãos, que temos que lutar para sermos melhores e conseguirmos ganhar direitos. E assim os miúdos não aprendem a partilhar, a viver em sociedade, e transformam-se em pequenos déspotas. A comida é uma das áreas mais sensíveis nestas exigências, os doces, batatas fritas, snacks, fast-food, e muitos destes miúdos são desta forma obesos. Nada os satisfaz o suficiente, procuram incessantemente o conforto que a falta de autoconfiança lhes tira. E os pais compram atrás uns dos outros bens a que eles ligam apenas no primeiro dia em que os recebem, porque no dia seguinte outras exigências surgem. O vazio emocional deixado pela insegurança da dependência não se preenche de forma alguma, e é sempre preciso mais. E depois aprendem a chantagem. Para fazerem algo certo, exigem tudo. E manipulam, cada vez mais, os pais.
Infelizmente estas situações são cada vez mais frequentes. Precisamos, como pais, de saber explicar aos nossos filhos que a vida não é fácil, mas que eles são capazes de tudo se se esforçarem. Eles têm que querer ser crescidos, querer ser capazes, querer dar o passo seguinte. Têm que acreditar que são capazes, sabendo que vão falhar duas, quatro, trinta vezes até conseguir. E ganhar, assim, a capacidade de persistir, de continuar a tentar, de acreditar que são capazes de lá chegar. Não há melhor recompensa que o apreço, mostrar-lhes que temos orgulho no que eles conseguem fazer, que não nos importamos com os fracassos porque sabemos que são eles que conduzem à aprendizagem. Para finalmente termos o prazer de ver o sorriso triunfante de quem falhou pacientemente vinte vezes até ser capaz, e que nos olha nos olhos à procura do orgulho de que lá transborda, vendo nesse orgulho uma razão para ser melhor, para ser maior.
Uma maioria que desde cedo se habitua à recompensa imediata, aprende a manipular os pais e todos os que estão em seu redor a torto e a direito. O mínimo queixume é atendido com precisão, a mínima frustração é imediatamente recompensada. O processo de aquisição de autonomia é lento e moroso, um passo de cada vez. Desde o dia em que conseguem sozinhos agarrar um objecto, o dia em que começam a dormir sozinhos, o dia em que deixam "o" boneco ou a chucha em casa e dizem "sou crescido". E uma criança que aprende a ser recompensada no imediato não desenvolve tolerância à frustração, não aprende que precisa de insistir e treinar para aprender, para conseguir. E são meninos inseguros, que não acreditam neles próprios, que largam a chucha aos 4 anos, que dormem na cama dos pais até aos 6 anos, e que progressivamente aprendem o caminho mais fácil: não o do esforço, da dedicação, da persistência, mas o da exigência, da dependência. Os mais fortes aprendem que para triunfar necessitam apenas de pedir. Os pais, frustrados pela falta de tempo para os seus filhos - fruto da sociedade "workaholic" em que vivemos -, não têm coragem de dizer que não, de explicar que não, de ensinar que a vida não nos cai nas mãos, que temos que lutar para sermos melhores e conseguirmos ganhar direitos. E assim os miúdos não aprendem a partilhar, a viver em sociedade, e transformam-se em pequenos déspotas. A comida é uma das áreas mais sensíveis nestas exigências, os doces, batatas fritas, snacks, fast-food, e muitos destes miúdos são desta forma obesos. Nada os satisfaz o suficiente, procuram incessantemente o conforto que a falta de autoconfiança lhes tira. E os pais compram atrás uns dos outros bens a que eles ligam apenas no primeiro dia em que os recebem, porque no dia seguinte outras exigências surgem. O vazio emocional deixado pela insegurança da dependência não se preenche de forma alguma, e é sempre preciso mais. E depois aprendem a chantagem. Para fazerem algo certo, exigem tudo. E manipulam, cada vez mais, os pais.
Infelizmente estas situações são cada vez mais frequentes. Precisamos, como pais, de saber explicar aos nossos filhos que a vida não é fácil, mas que eles são capazes de tudo se se esforçarem. Eles têm que querer ser crescidos, querer ser capazes, querer dar o passo seguinte. Têm que acreditar que são capazes, sabendo que vão falhar duas, quatro, trinta vezes até conseguir. E ganhar, assim, a capacidade de persistir, de continuar a tentar, de acreditar que são capazes de lá chegar. Não há melhor recompensa que o apreço, mostrar-lhes que temos orgulho no que eles conseguem fazer, que não nos importamos com os fracassos porque sabemos que são eles que conduzem à aprendizagem. Para finalmente termos o prazer de ver o sorriso triunfante de quem falhou pacientemente vinte vezes até ser capaz, e que nos olha nos olhos à procura do orgulho de que lá transborda, vendo nesse orgulho uma razão para ser melhor, para ser maior.
domingo, 12 de abril de 2009
Mahna Mahna
Pois o Jazz não tem que ser chato. E há Jazz adaptado a crianças. Pois venha Jazz Pediátrico, recomendado 3X ao dia. O meu filho cumpre religiosamente a receita...
(Tatas, desculpa o plágio... A mariamadalena viu isto pela primeira vez no teu blog, e a moda pegou cá em casa...)
(Tatas, desculpa o plágio... A mariamadalena viu isto pela primeira vez no teu blog, e a moda pegou cá em casa...)
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Filho
sábado, 11 de abril de 2009
Bom de Veras
Foi deveras bom o jantar, o calor dos amigos que me foram dizer adeus. Mas foi melhor que o jantar, garanto, tudo o que me ensinaram e tudo o que levo comigo em memórias, aprendizagem e amizade. Voltarei, aos bocadinhos, saber de vós e dar a saber de mim.
Até já!
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Hospital
domingo, 29 de março de 2009
Mestres do sopro
Fiquem com Louis Armstrong - um clássico - e Dizzie Gillespie, que rompeu com os clássicos com o seu Bebop. Dizzie foi com Charlie Parker o fundador do movimento, tão mal-falado nos seus primórdios pela irregularidade e rapidez do ritmo e notas distónicas, quebrando a harmonia do Swing e das Big Bands. Neste vídeo, Louis Armstrong mostra a sua enorme versatilidade ao aproximar-se do movimento radical que levou o Jazz para fora dos seus limites. Uma combinação deliciosa; a aceitação de um futuro divergente e fracturante por parte de um grande mestre.
E, para os que não gostam de Jazz: vejam na mesma o vídeo. As bochechas do Dizzie merecem ser vistas. São a razão para que qualquer aluno de sopro oiça: "Pára de encher as bochechas! Ainda ficas como o Gillespie!".
E, para os que não gostam de Jazz: vejam na mesma o vídeo. As bochechas do Dizzie merecem ser vistas. São a razão para que qualquer aluno de sopro oiça: "Pára de encher as bochechas! Ainda ficas como o Gillespie!".
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Every other sunday Jazz
terça-feira, 17 de março de 2009
12 anos
Muitas imagens surgem na minha cabeça quando penso nos meus 12 anos. Muitas outras surgirão na cabeças de quem está aí, do outro lado do ecrã. Cada um teve a sua infância, mas certamente todos se recordarão da imaturidade que tinham aos 12 anos, da inocência maior ou menor. Mas de ser, aos 12 anos, criança. Talvez, também, uns mais e uns menos.
A Raquel tinha 12 anos. Vinha à Urgência porque os pais não se conseguiram lembrar de sítio melhor. O nível socio-económico era visivelmente baixo, o que terá certamente potenciado os eventos que culminaram com aquela ida à Urgência. A Raquel tinha fugido de casa dois dias antes, contava-me a mãe. A Polícia tinha-a encontrado com duas amigas e com alguns rapazes, nem percebi onde e em que circunstâncias. E, devolvida à família, não sabiam o que fazer. Assim contava a mãe. Naturalmente perguntei o que pretendiam então de mim... Disse-me a mãe, corada como um tomate, "é que ela... coiso!". Percebi que precisava da colaboração da Raquel, e portanto disfarcei a surpresa com uma pergunta "a Raquel teve relações sexuais, é assim?". A mãe anuiu, aliviada por lhe ter obviado a vergonha de não o saber dizer eufemisticamente. Pretendia que lhe fosse realizado um exame ginecológico, mas a Raquel garantia veementemente que as relações tinham sido consentidas. Não havia indicação para tal, mas algumas coisas precisavam ser apuradas... A Raquel não queria falar perante a mãe, e portanto pedi-lhe que saísse por um pouco. Explica-me então a Raquel, com os seus 12 maduros anos, que tinha tido já várias relações, sempre sem penetração e com preservativo. Expliquei-lhe que mesmo sem penetração a gravidez é possível, o que a fez mudar de cor... Talvez o preservativo não estivesse colocado todo o tempo, confessou. Desta vez tinha fugido, com o mesmo namorado. Na noite em que fugiram tiveram relações, consentidas - garantiu-me -, mas temia que o preservativo se tivesse rompido. Assim aguardámos o teste de gravidez, negativo, para podermos dar a pílula do dia seguinte. A uma menina de 12 anos. O pai, divorciado das mãe e emigrado na Suiça, tinha voado para Portugal pela notícia de desaparecimento da filha. A decisão estava tomada entre pai e mãe, ela ia viver na semana seguinte para a Suiça. Perdida a inocência, com a esperança de a recuperar noutras paragens. Mas com pouca fé.
A Raquel tinha 12 anos. Vinha à Urgência porque os pais não se conseguiram lembrar de sítio melhor. O nível socio-económico era visivelmente baixo, o que terá certamente potenciado os eventos que culminaram com aquela ida à Urgência. A Raquel tinha fugido de casa dois dias antes, contava-me a mãe. A Polícia tinha-a encontrado com duas amigas e com alguns rapazes, nem percebi onde e em que circunstâncias. E, devolvida à família, não sabiam o que fazer. Assim contava a mãe. Naturalmente perguntei o que pretendiam então de mim... Disse-me a mãe, corada como um tomate, "é que ela... coiso!". Percebi que precisava da colaboração da Raquel, e portanto disfarcei a surpresa com uma pergunta "a Raquel teve relações sexuais, é assim?". A mãe anuiu, aliviada por lhe ter obviado a vergonha de não o saber dizer eufemisticamente. Pretendia que lhe fosse realizado um exame ginecológico, mas a Raquel garantia veementemente que as relações tinham sido consentidas. Não havia indicação para tal, mas algumas coisas precisavam ser apuradas... A Raquel não queria falar perante a mãe, e portanto pedi-lhe que saísse por um pouco. Explica-me então a Raquel, com os seus 12 maduros anos, que tinha tido já várias relações, sempre sem penetração e com preservativo. Expliquei-lhe que mesmo sem penetração a gravidez é possível, o que a fez mudar de cor... Talvez o preservativo não estivesse colocado todo o tempo, confessou. Desta vez tinha fugido, com o mesmo namorado. Na noite em que fugiram tiveram relações, consentidas - garantiu-me -, mas temia que o preservativo se tivesse rompido. Assim aguardámos o teste de gravidez, negativo, para podermos dar a pílula do dia seguinte. A uma menina de 12 anos. O pai, divorciado das mãe e emigrado na Suiça, tinha voado para Portugal pela notícia de desaparecimento da filha. A decisão estava tomada entre pai e mãe, ela ia viver na semana seguinte para a Suiça. Perdida a inocência, com a esperança de a recuperar noutras paragens. Mas com pouca fé.
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Hospital
domingo, 15 de março de 2009
Filipe Melo Trio
Um trio de Jazz em português, encabeçado pelo Filipe Melo, um jovem e um pouco excêntrico músico/cineasta. A parte do excêntrico vem como cineasta... Abaixo, o Jazz e a excentricidade!
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domingo, 8 de março de 2009
Um salvamento diferente
Ponte 25 de Abril, Sábado à hora de almoço. Ia calmamente a caminho da margem sul do Tejo, quando vejo um grande alvoroço. Três carros encostados na faixa da direita, sete ou oito pessoas fora dos carros com um ar aflito, uma mulher nova a desmaiar - assim me pareceu. É nestas alturas que amaldiçoo ser médico - como quando no avião se ouve "há algum médico a bordo?". Estamos fora do nosso ambiente, sem o nosso material, em situações de risco, tudo pode acontecer. E pior, podemos não ser capazes de ajudar e a nossa ajuda demorar a chegar. Assim, com o coração aos saltos, encostei e vesti o colete. Saio do carro e pergunto: "Sou médico, precisam de um médico?". E aí a reacção estranha: uma série deles olham para mim, caras de estranheza, e um deles "De um médico? Não, ela quer-se atirar da ponte!". Ela estava a ser agarrada por dois homens - familiares, imaginei - que diziam "Não te vais nada atirar, vais é para dentro do carro!". A situação parecia controlada, e assim encaminhei-me para o carro. Ao entrar no meu carro, a mariamadalena ve-a entrar por uma porta do carro, forçada, e eu vejo-a sair disparada pela outra. Sem olhar sequer para os carros que faziam travagens bruscas à sua volta atravessou todo o tabuleiro da ponte até ao outro lado, começando a trepar as protecções. Nessa altura saio novamente do carro, um outro homem consegue agarra-la, e de repente somos três, que a agarram e imobilizam no chão, enquanto ela esperneia, dá pontapés e nos chama coisas do piorzinho que possam imaginar. Fico a sangrar do lábio, de um pontapé mais bem desferido, mas conseguimos finalmente imobiliza-la. Depois foi esperar que chegasse a polícia para a levar para o hospital mais próximo. Entretanto pouco conseguimos perceber das suas motivações, da sua vida... Nenhum dos presentes era seu familiar, eram todos desconhecidos que pararam em cima da ponte para a impedir de pôr fim à vida. Não tinha ali o carro, tinha vindo a pé pelo tabuleiro da ponte, e um verdadeiro herói parou o carro quando a viu trepar as protecções, salvando-lhe a vida. O outro, mais corajoso do que pensou ser, dizia-me entredentes "Porra que eu tenho vertigens, só estou aqui por ela", enquanto se sentava em cima dos joelhos dela. Finalmente chegou a polícia, primeiro uma mota sem recursos e depois os reforços para a levarem. E depois cada um seguiu o seu caminho, todos rezando para que alguém a possa verdadeiramente ajudar e fazer querer viver...
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Coisas
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
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