domingo, 8 de março de 2009

Um salvamento diferente

Ponte 25 de Abril, Sábado à hora de almoço. Ia calmamente a caminho da margem sul do Tejo, quando vejo um grande alvoroço. Três carros encostados na faixa da direita, sete ou oito pessoas fora dos carros com um ar aflito, uma mulher nova a desmaiar - assim me pareceu. É nestas alturas que amaldiçoo ser médico - como quando no avião se ouve "há algum médico a bordo?". Estamos fora do nosso ambiente, sem o nosso material, em situações de risco, tudo pode acontecer. E pior, podemos não ser capazes de ajudar e a nossa ajuda demorar a chegar. Assim, com o coração aos saltos, encostei e vesti o colete. Saio do carro e pergunto: "Sou médico, precisam de um médico?". E aí a reacção estranha: uma série deles olham para mim, caras de estranheza, e um deles "De um médico? Não, ela quer-se atirar da ponte!". Ela estava a ser agarrada por dois homens - familiares, imaginei - que diziam "Não te vais nada atirar, vais é para dentro do carro!". A situação parecia controlada, e assim encaminhei-me para o carro. Ao entrar no meu carro, a mariamadalena ve-a entrar por uma porta do carro, forçada, e eu vejo-a sair disparada pela outra. Sem olhar sequer para os carros que faziam travagens bruscas à sua volta atravessou todo o tabuleiro da ponte até ao outro lado, começando a trepar as protecções. Nessa altura saio novamente do carro, um outro homem consegue agarra-la, e de repente somos três, que a agarram e imobilizam no chão, enquanto ela esperneia, dá pontapés e nos chama coisas do piorzinho que possam imaginar. Fico a sangrar do lábio, de um pontapé mais bem desferido, mas conseguimos finalmente imobiliza-la. Depois foi esperar que chegasse a polícia para a levar para o hospital mais próximo. Entretanto pouco conseguimos perceber das suas motivações, da sua vida... Nenhum dos presentes era seu familiar, eram todos desconhecidos que pararam em cima da ponte para a impedir de pôr fim à vida. Não tinha ali o carro, tinha vindo a pé pelo tabuleiro da ponte, e um verdadeiro herói parou o carro quando a viu trepar as protecções, salvando-lhe a vida. O outro, mais corajoso do que pensou ser, dizia-me entredentes "Porra que eu tenho vertigens, só estou aqui por ela", enquanto se sentava em cima dos joelhos dela. Finalmente chegou a polícia, primeiro uma mota sem recursos e depois os reforços para a levarem. E depois cada um seguiu o seu caminho, todos rezando para que alguém a possa verdadeiramente ajudar e fazer querer viver...