Antes das mini-férias fiz um banco de Pediatria que me marcou. O primeiro bebé que vi nessa manhã tinha 2 meses de idade, o Daniel. Estava com dificuldade respiratória marcada, parecia um autêntico peixinho fora de água... A cada inspiração notava-se o esforço respiratório que ele fazia, e a cada expiração emitia um gemido (mais um sinal de dificuldade respiratória). O esforço respiratório era já prolongado, e o Daniel estava a ficar esgotado. O mais impressionante no Daniel eram os olhos, fixos no infinito. Ele estava inteiramente dedicado ao esforço respiratório, parecia absolutamente alheio a tudo o que o rodeava. A mãe do Daniel estava muito silenciosa, com os olhos húmidos e um ar apreensivo. Disse-nos que o Daniel já tinha estado com dificuldade respiratória antes, uma bronquilolite que se havia tratado algumas semanas antes com sucesso.
A auscultação pulmonar denotava também a gravidade do quadro, já practicamente que não se ouvia o ar a entrar nos pulmões do Daniel. O quadro não era para brincadeiras, e iniciámos imediatamente terapêutica pesada para reverter aquela situação. Mas rapidamente percebemos que não o Daniel não melhorava e transferimo-lo para um hospital com Unidade Pediátrica de Cuidados Intensivos. Quando a colega que o acompanhou no transporte voltou contou-nos que tiveram que o intubar e conectar ao ventilador para conseguir respirar.
Não soube nada do Daniel enquanto estive de férias, naturalmente. Quando voltei lembrei-me de perguntar o que tinha então acontecido ao menino. A minha colega fez um ar gravoso e explicou-me que o Daniel não tinha sobrevivido. Recebi a notícia com espanto, a insuficiência respiratória dele não parecia justificar tamanho desfecho, especialmente sabendo que estava já ventilado... Parece que tinha uma infecção viral grave, com atingimento do coração também, atingimento esse que acabou por ser fatal... Recebi esta notícia quando estava de urgência. Por muito que doesse, tinha dezenas de meninos doentes para ver. Tive naturalmente que seguir em frente, e agir como se nada fosse. Frieza? Não, não... O que custou foi dormir, nessa noite... Este é o lado negro da Pediatria...
sexta-feira, 2 de setembro de 2005
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