A Ana entrou com uma cara muito mais triste do que deveria ter aos 13 anos. Não era o amuo adolescente, esse topa-se a milhas, era algo mais sério. Um traumatismo pouco importante, na escola, tinha-a deixado ligeiramente dorida, mas a dor que sentia era claramente outra. Tinha a cara magra, e as roupas deixavam antever uma figura esquálida. Além da dor, que me pareceu pouco importante, havia algo que eu precisava de perceber: onde estava a fonte de toda aquela tristeza. Ao observa-la apercebi-me da dimensão da sua magreza. Era francamente magra. Pedi-lhe uma radiografia, e quando saíu para a fazer a avó que a acompanhava tentou dizer-me alguma coisa, atabalhoadamente segredando como podia a 2 metros de distância: "A mãe morreu há 1 mês". A Ana apercebeu-se, naturalmente, e lançou um olhar furioso à avó.
Ao voltarem - contractura bla bla, chuveiro de água quente bla bla - perguntei-lho directamente. Um pequeno clique e desatou a chorar, as lágrimas que continha há largos minutos. A falta de privacidade e o rebuliço da Urgência não me permitiram uma conversa mais calma, mas precisava de perceber o que se passava para encaminhar a situação adequadamente. Ao longo do último ano a mãe da Ana tinha morrido lentamente, vítima de um cancro maldito. A Ana, rapariga que era de constituição razoável, foi aconselhada por um Ortopedista a não aumentar de peso - as dores que sentia nas costas não melhorariam se ela engordasse. Face a este conselho, a família (diligente) levou-a a uma Nutricionista para lhe estabelecer um plano alimentar equilibrado. Não acreditando que, adolescente, a Ana cumprisse plano rígido, esticou-se um pouco a corda na dieta. E a Ana, fruto de personalidade obstinada e perfeccionista - e certamente para distrair o pensamento do sofrimento que a morte lenta da mãe lhe causava -, levou-a à risca. Levou-lhe a dieta 9 quilos e a saúde. Acha-se agora magra demais, com pouca convicção, e admite precisar de conversar sobre o que se passa na sua alma. Com pouco tempo mais disponível despedi-me, e marquei-lhe uma consulta para conversar um pouco melhor e perceber se a flexibilização da alimentação prescrita teria alguns resultados. Mas o que se passou com a Ana não deveria nunca acontecer aos 13 anos, e isso nunca será remediado... Fica a esperança que a saúde, pelo menos essa, lhe retorne. Em todas as vertentes.
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