Mais uma história de SAP.
Chamámos a D. Assunção pelo altifalante. A ficha contáva-nos que já por ela tinham passado 80 anos, pelo que esperámos pacientemente pela sua chegada. Ouvimos depois o som da bengala intervalada pelos passos da D. Assunção, que se aproximava do gabinete. Entrou, lentamente, e sentou-se. Perguntei "Então, D. Assunção, o que a traz por cá?". Iniciou uma descrição atabalhoada de dores múltiplas, saltando da perna para a cabeça, depois passando pelas costas e abdómen. Voltava à dor de cabeça, e descia para o peito. Perguntámos se já tinha essas dores há muito tempo, e a resposta foi clara: "Uuuui, sei lá eu há quanto tempo...". Tentando inteirarmo-nos de outras patologias que tivesse a D. Assunção, perguntámos qual era a medicação que fazia habitualmente. Disse "está aqui na bolsa para mostrar...", e começou a vasculhar, lentamente, no fundo da sua bolsa. Dezenas de papéis surgiam, nenhum parecia ser o pretendido. Disse "Bem, eu tenho uma doença no sangue, aí há uns tempos andei muito mal e fui seguida no hospital. Agora com os medicamentos ando melhor! Parece-me que tenho aqui um papel onde tenho o nome da doença escrito...". E continuou a vasculhar, muuuito lentamente, todos os papéis da mala. Até que, enfim, sai o papel desejado: "É este! Este é o nome da minha doença!!". Olhámos ambos para o papel, e pensámos ambos o mesmo: deve ser o nome de algum síndrome hematológico esquisito que só os hematologistas conhecem... Até que olhámos com outros olhos para o papel e... percebemos o quanto estávamos enganados. Não me contive, e chegaram a rolar lágrimas pela minha cara abaixo de tanto rir... O dito papel está aqui reproduzido:
Não, não se tratava de três nomes dos investigadores que deram nome a algum estranho síndrome hematológico... Era o nome de um MOLHO DE CARIL...
Infrutíferas foram as restantes tentativas de perceber qual era a doença de base da velhota, e por precaução levou apenas um paracetamol para as múltiplas e habituais dores e uma recomendação para se dirigir ao médico de família...
E foi assim que um dia absolutamente infrutífero de SAP (não vi ninguém doente...) ficou absolutamente ganho. Valeu a pena esperar tanto para receber um papel assim...
quinta-feira, 17 de março de 2005
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