O Sr. José tem 93 anos. Entrou no gabinete pelo seu próprio pé, com a ajuda de uma bengala. Mas anda bem, mesmo sem a bengala. Entrou com as costas um pouco curvadas, mas com o olhar em frente, bem diferente do olhar de tantos "velhotes" de 60 anos, bem pregado no chão. O Sr. José tem muito cuidado com a alimentação, sempre teve. É diabético, mas uma pequena dose de um antidiabético oral é suficiente para controlar os valores de glicémia (açúcar no sangue). A alimentação é a sua melhor terapêutica, e cumpre-a rigorosamente. Apressou-se a colocar as análises laboratoriais em cima da mesa, para as vermos. Uma rápida vista de olhos nas análises não detectou qualquer problema! Quando lhe contámos que tem uma anemia ligeira, explicou-nos como perdeu sangue pelas fezes. Já tinha ido à consulta de uma Internista, que lhe pediu um exame endoscópico. Tinha mais um problema nas análises (que o livrinho do diabético confirmava): estava a cumprir tão bem a dieta que o antidiabético oral estava já em dose excessiva, sendo necessário reduzi-la. O colesterol, esse, estava óptimo - a minha tutora roeu-se de inveja, e eu não quero nem saber o meu. A tensão arterial estava um pouco alta, mas um pequeno ajuste na terapêutica antihipertensora seria em princípio suficiente. Rapidamente, e sem pruridos, se colocou de joelhos na marquesa para um toque rectal (apesar de estar a aguardar o exame endoscópico, o toque rectal é uma ferramenta diagnóstica importante). Tinha de facto uma pequena hemorróida, nada mais havia a salientar. A próstata, essa, estava óptima.
Certo de que estava a ser enganado, perguntei-lhe em tom de brincadeira se tinha 39 ou 93 anos. Riu-se, e gabou-se da sua saúde. Deu-me um aperto de mão, e saiu pela porta do gabinete. Para trás deixou, para além da bengala que regressou para ir buscar, uma grande lição de vida.
segunda-feira, 21 de março de 2005
Subscrever:
Comment Feed (RSS)
|