sábado, 16 de abril de 2005

Desabafo

O meu desabafo hoje é diferente. Não vou falar de doentes. Porque não tenho visto doentes. Não vou falar de doenças. Não tenho visto doenças. Não vou tão pouco falar de trabalho. Não tenho trabalhado nada - tenho visto outros a faze-lo.

Se há coisa que detesto é sentir-me inútil. E tenho-me sentido extraordinariamente inútil. Estou, como já vos contei, a estagiar em Saúde Pública. O meu dia a dia resume-se a observar o trabalho do meu tutor, que se relaciona muito com "despachar palepada". O tempo que não se passa a despachar papelada passa-se a fazer o exame de saúde para a carta de condução (algo muito pouco estimulante) ou a compilar estatísticas de saúde do ano de 2004. Por muito interessante que eventualmente a especialidade de Saúde Pública possa ser, e desculpem-me os meus colegas de Saúde Pública, eu não nasci para ela. Eu nasci para ver pessoas, para lidar com elas. Para falar com pessoas, para as ajudar numa dicotomia (eu e tu). A Saúde Pública pode ajudar pessoas, e fa-lo, a um nível superior (eu e eles). Através de estabelecimento de procedimentos em caso de epidemia, de verificações da qualidade de instalações, etc, a Saúde Pública ajuda as pessoas "lá de trás da secretária". E eu não nasci para estar atrás de uma secretária. Estou sedento de contacto humano, estou ansioso por auscultar, palpar, percutir, perguntar, segurar a mão dos doentes, que seja! Detesto papéis, secretárias, estatísticas, números secos e frios num LCD. Quero, e desculpem a brutalidade, sangue, suor e lágrimas. Quero trabalhar! (já estou como o outro, credo)

Afinal de contas, é para desabafar, não é? Sinto-me muito melhor agora. Obrigado.