sábado, 1 de novembro de 2008

Badum Badum...


O António tinha a cara num bolo. Uma infecção da face, consequência de uma ferida na cavidade oral, transformara o seu lado esquerdo. Estava, no entanto, muito bem disposto e sem outros critérios de gravidade. Justificava no entanto colher sangue para análises, e aproveitar a picada para adinistrar antibiótico pela veia. Aí a boa disposição do António modificou-se. Não fez a habitual tourada, era já um menino grande, mas deu asas ao seu lado mais dramático, com muita graça diga-se em abono da verdade. Comentámos aliás a sua veia artística, questinávamos se para o drama ou a comédia. Nisto, duas pessoas pararam à porta da sala de tratamentos, e decidiram dar uma ajuda. Trata-se de um projecto de música nos hospitais, que ciranda pela Pediatria tentando aligeirar o ambiente pesado, aliviando um pouco a pressão de um internamento. O António, surpreendido pelo ritmo, ficou mais calmo. O médico (eu) ficou mais bem disposto, e pôs-se a acompanhar com um "badum badum" de contrabaixo o ritmo jázzico de uma bossanova infantilizada. Todos sorríamos, incluindo o António, que mesmo durante a picada não estrebuchou. Correu tudo bem, e no final dirigi aos músicos um sincero agradecimento. A humanização dos hospitais é essencial, especialmente no contexto pediátrico. E já agora, a humanização do ambiente de trabalho, seja lá ele qual for... Honestamente, fiquei mais bem disposto!