Os miúdos são capazes de tudo pela emoção de experimentar algo novo. É a conclusão a que chego. E mais os miúdos, as miúdas têm mais tino e procuram aprender coisas sem se magoarem. É menos frequente, apesar de não ser raro, vermos uma menina com um bago de milho espetado no nariz.
O António tinha já 5 anos quando lhe apeteceu ver o que acontecia se um bago de milho das pipocas que comia ao lanche ficasse encravado na narina esquerda. O pai aflito levou-o à Urgência, depois de ele lhe explicar tranquilamente que, por nenhuma razão válida, tinha experimentado. Eu costumo perguntar "porquê", especialmente quando já têm idade para ter (um pouco mais de) juizo, mas nunca obtive mais que um encolher de ombros e um sorriso como resposta. Lá dentro daquelas cabeças deve haver uma explicação, alguma história mirabolante sobre um micro-submarino com micro-cientistas que entra pelos nosso orifícios para nos curar as maleitas mais ocultas (eu adorava filmes desses, ficava sempre fascinado com o aspecto do corpo humano por dentro - geralmente fruto de uma imaginação fértil e desprovida de qualquer ligação à realidade). No entanto essas histórias, como não fazem sentido no mundo dos adultos, ficam por contar e resumem-se num encolher de ombros envergonhado. Mas o António teve sorte. Pedi que se assoasse enquanto lhe tapava a narina direita e "POP", bago de milho cá fora. Pai envergonhado, "realmente não me lembrei dessa..."; miúdo repreendido, "nunca mais!"; pediatra discrente pensando que aquilo até não custou nada e o miúdo achou piada à cena.
A Maria era mais pequenina, tinha 2 anos. Foi com a mãe à Urgência porque tinha mau hálito. "Há vários dias, doutor, cada dia mais mal cheirosa. Tem que ser alguma coisa!". Conhecendo já bem a habitual tentação, espreitei pelo nariz. E lá ao fundo, bem lá ao fundo, qualquer coisa esbranquiçada com um ar esponjoso. Arranjei uma pinça bem comprida, própria para estas coisas, e apanhei-lhe uma pontinha. Devagarinho puxei, puxei (com os pais a agarrar muito bem na Maria - acho que até eu esperneava se me fizessem uma destas), e "POP", sai um pequeno cilindro de esponja branca. "Onde raio..." pergunta a mãe, mas mais um problema resolvido.
O Pedro teve menos sorte (mas a mesma dose de arrojo) quando tentou ver se uma peça de plástico que se tinha partido de um carrinho cabia no ouvido. O problema é que entrava mesmo à justinha. Saír é que nem por isso. De tal maneira que o Pedro, depois de uma pequena tourada para se deixar observar, teve que ser anestesiado no bloco operatório para a Otorrino lhe tirar o dito plástico. E quando depois de tudo isto lhe perguntei se tinha aprendido a lição disse-me "Não custou nada, estava a dormir...". Parece que a aprendizagem ficou para uma próxima.
A Olena tinha 8 meses quando a mãe lhe tentou dar pela primeira vez um feijão, descascando-o. No entanto ela não estava preparada para um alimento sólido tão precocemente na sua vida, e assim engasgou-se com o feijão, deixando a mãe de insistir com alimentos sólidos. Pareceria uma história simples, não fosse a Olena ter ficado, desde então, com dificuldade em respirar e com muita tosse. A minha observação da Olena não deixava dúvidas: ela tinha qualquer coisa, possivelmente o feijão, a obstruir um brônquio do pulmão direito. Algumas horas depois um Pneumologista com jeito para a pesca observava atentamente o dito feijão descascado na palma da sua mão, juntando-o à sua colecção de objectos retirados de brônquios mesmo ao lado do caracol.
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
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