segunda-feira, 3 de janeiro de 2005

Mezinhas

As mezinhas fazem parte da cultura portuguesa. Provavelmente farão parte de outras culturas, mas na portuguesa estão bem enraizadas... O que não é necessáriamente mau!! Muitas doenças que passam por si (as vulgares constipações e mesmo as gripes), as chamadas doenças autolimitadas, acabam por ser "tratadas" pelas mezinhas, que dessa forma desentopem os SAPs e SUs... O pior é quando protelam o tratamento de situações que deviam ser "atacadas" rapidamente, mas isso é outra conversa. Mas os tradicionais mel com limão, leite com mel, chá de limão, chá de casca de cebola, etc nunca fizeram mal a ninguém, que eu saiba. Se fazem bem ou não é questionável, mas ajudam a acreditar que sim. Há no entanto algum fundamento científico para os efeitos paliativos destas substâncias! O mel possui componentes antitússicos, por exemplo.

Um problema, esse sim um problema, mas grave é o dos "doutores caseiros"... Quantos de nós não ouvem diariamente no metro "Ai tive um problema de pele igual a esse - igualzinho! - e o médico deu-me esta pomada, toma lá!". Depois vem a hora da verdade e o corticóide para o eczema da velhota faz explodir a incipiente micose da amiga... As pessoas têm que entender que o que faz bem a uma pessoa pode não fazer a outra... Por isso é que nós tiramos um curso de 6 anos... Para aprender a reconhecer as coisas e tratar de forma adequada! Mesmo para uma mesma doença, como sendo a famigerada hipertensão, cada pessoa tem um medicamento que é o mais indicado para ela... E essa escolha depende da idade, do sexo, da raça, das outras doenças que se tenha, etc!
É mais grave ainda o caso em que os "doutores caseiros" decidem baixar ou aumentar as doses dos medicamentos que estão a tomar sem dar cavaco ao médico... Como o tradicional velhote hipertenso que pára de tomar os antihipertensores porque "Fui medir a tensão à farmácia todos os dias desde que comecei o medicamento e quando ficou boa parei...". A hipertensão é uma doença crónica, estava camuflada pelos medicamentos mas não desapareceu...
Problemas como este não isentam, no entanto, o médico de culpa... O estabelecimento de terapêutica, qualquer que ela seja, deve resultar de um "contrato" entre o médico e o doente. Contrato esse em que a informação é vital, sendo que a participação do doente na decisão do acto terapêutico ajuda a que ele a cumpra. Como dizia o meu vizinho no outro dia, a história de "o doutor é que sabe" já tem barbas, e está na altura de mudar...


Agora um aparte: é possível que se avizinhem bastantes histórias sobre Ginecologia-Obstetrícia (GO) neste blog. Durante o próximo mês estarei a estagiar num serviço de GO, pelo que surgirão concerteza histórias, umas mais engraçadas outras mais deprimentes... Provavelmente surgirá o tema do aborto mais uma vez, questão com a qual os Obstetras se deparam diariamente...