Chamámos pelo intercomunicador a doente seguinte. Antes disso, a minha tutora explicou-me a história da doente.
Era a Andreia, de 35 anos. Tinha iniciado, há um ano atrás, um quadro de dificuldade em engolir e sensação de enfartamento. Tinha dores abdominais, e perdeu alguns quilos num curto espaço de tempo. Através de uma endoscopia (exame em que um tubo é introduzido pela boca para observar o interior do esófago e estômago) foi-lhe diagnosticado um tumor gástrico (cancro do estômago). As primeiras palavras da Andreia, ao tornar-se conhecedora do diagnóstico, foram de esperança e confiança. Foi adequadamente referenciada, tendo sido operada no IPO. Foi-lhe removido todo o estômago. A Anatomia Patológica confirmou o diagnóstico, era de facto um tumor do estômago. Felizmente parecia não haver quaisquer metástases, parecia estar de facto confinado ao estômago.
Passado algum tempo da cirurgia, regressou à consulta de Clínica Geral. Tinham recomeçado as queixas, em tudo semelhantes às anteriores. O tumor tinha recidivado. Continuou a ser seguida no IPO, onde ponderam agora as terapêuticas possíveis.
Entrou no consultório, onde vinha pedir o prolongamento da baixa. Vinha com duas crianças pela mão. O mais pequeno tinha 1 ano e meio, e estava, sorridente ao colo da mãe. A mais velha, com 10 anos, olhava, cabisbaixa, para o chão. Acompanhava sempre a mãe nas suas frequentes visitas aos médicos. Não esboçou um sorriso durante a consulta, nem mesmo quando a minha tutora elogiou as madeixas vermelhas do cabelo dela. A mãe, essa, não tinha mais palavras de optimismo e esperança. Tinha o desalento estampado no rosto, a tristeza no olhar, e a morte no pensamento.
sábado, 5 de fevereiro de 2005
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