quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

Pânico

Estávamos a examinar a D. Maria, na urgência de Ginecologia/Obstetrícia, quando entra de rompante na sala uma mulher de aproximadamente 25 anos. Vinha a chorar compulsivamente, e não conseguia articular mais de duas palavras seguidas. Entre o choro e os soluços dizia repetidamente "Estou a abortar! Estou a abortar!". Enquanto a outra doente saía da sala, a enfermeira tentou acalma-la. Quando falámos com ela já estava um pouco mais calma, e conseguiu-nos explicar o que se passava. Há cerca de dois meses tinha descoberto que estava grávida. Tinha planeado engravidar há alguns meses, e finalmente tinha conseguido engravidar. Poucos dias depois de engravidar teve perdas de sangue pela vagina, e verificou-se que se tinha de facto tratado de um aborto. Passados dois meses notou novo atraso no período menstrual. Tinha ido nessa mesma manhã à farmácia comprar um teste rápido de gravidez. Em casa fez o teste, que deu positivo. Nessa mesma tarde notou perdas de sangue pela vagina, altura em que entrou em pânico e se dirigiu à urgência. Contas feitas, a gravidez tinha apenas 6 semanas de duração. Já mais calma, sentou-se na marquesa de observação. Introduzimos o espéculo, e as perdas sanguíneas que observámos eram mínimas, compatíveis com uma pequena hemorragia que é normal aquando da implantação do ovo na parede do útero. Confirmou que de facto tinha notado apenas uma mancha ténue de sangue na roupa interior. Foi devidamente tranquilizada , e recebeu nas mãos um "presente" que a deixou com os olhos a brilhar. Foi incapaz de esconder um enorme sorriso triunfante quando, após ter entrado nas urgências pensando que estava a abortar, levou entre as mãos o "livro verde da grávida".