Os cuidados paliativos são os cuidados de saúde (médicos e de enfermagem) que se cedem às pessoas por quem a medicina dita "curativa" (se isso existe) já nada pode fazer. Alivia-se a dor e o sofrimento, acompanha-se a mais ou menos lenta progressão para a morte, mas nada se evita, muito pouco se adia.
Não é nada fácil decidir quando é que um doente deve ser alvo de cuidados paliativos... A linha decisória não é fácil de definir: quando é que desistimos de tratar? Quando é que temos a certeza que não há regressão possível da doença, e que a inevitabilidade da morte chega? Muitas vezes investimos demais, e isso é prejudicial porque sujeitamos as pessoas a tratamentos que causam mais mal que bem... Por outro lado se deixamos de investir pensamos: e se tivesse feito mais?
Quem trabalha com cuidados paliativos trabalha um passo à frente deste. Lida com pessoas cuja vida é apenas um caminho para a morte. A dor, um dos enormes adversários nos cuidados paliativos, não é o único. Há outros problemas físicos a aliviar, e há ainda a depressão, a sensação de impotência perante a inevitabilidade da morte e da sua proximidade. Não é simples saber o que dizer a uma pessoa que tem motivos para querer desistir da vida só um pouqunho mais cedo... Será lícito obrigar a vida a terminar mais cedo? Sempre? Independentemente disso a decisão está para nós facilitada - não o podemos fazer. Mas há uma decisão igualmente difícil a tomar: quando alguma coisa acontece que precipita a morte, devemos impedi-la? Será também isso lícito?
No dia a dia das pessoas que se dedicam aos cuidados paliativos sucedem-se estas decisões difíceis, mas tratam-se também de pessoas com experiência... No entanto os cuidados paliativos no domicílio em Portugal estão ainda no início... Continuamos a ver os doentes terminais a ser internados nos hospitais para morrer, onde morrem sozinhos, são cobertos por um lençol branco e entram nas "estatísticas"... É preciso que em todo o país (os nossos (des?)governantes, os "manda-chuva" da saúde, cada um dos médicos, toda a sociedade) se perceba a importância do trabalho de quem lida com os cuidados paliativos todos os dias, e transformar isso num fenómeno nacional e global...
Escrevo isto depois de ter visto na RTP uma reportagem sobre os cuidados paliativos com a Dra. Isabel Neto, a quem espero estar a dar um pequeno contributo para mudar mentalidades...
domingo, 5 de dezembro de 2004
Subscrever:
Comment Feed (RSS)
|